terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Quadrinhos e Cinema: Uma Relação Carnal

Quadrinhos e cinema: Uma Relação Carnal

Quadrinhos e cinema: Uma Relação Carnal

Inegável o crescimento do interesse das produções cinematográficas em se apropriar do seguro universo dos quadrinhos para seus atuais produtos. Diversas relações são necessárias para que essa rede seja forte o suficiente para arrebatar o público consumidor e agregar aos seus produtos ainda mais valores, como uma análise histórica pode propiciar.

As relações entre cinema e quadrinhos são muito mais antigas, tendo existido, nos Estados Unidos, desde as animações aos filmes live action (como são chamados os filmes feitos com atores reais, distinguindo de produtos em desenhos animados). Com o sucesso dos super-heróis na segunda metade dos anos 30 e boa parte dos anos 40, filmes pulularam produções como as longas séries do Super-homem nas rádios em 1943 e nos cinemas entre 1948 e 1950, Batman e Robin em série de 1943 e Capitão América em 1944.

Seguiu-se um histórico de dialética branda, onde a mitologia dos super-heróis foi construída através de elaborações que de um momento surgiam de sua origem nos quadrinhos, de outro se adequavam aos agrados conquistados pelas mídias mais socialmente absorvíveis. As décadas seguintes foram de comunhão entre as mídias, num momento acrescentando elementos numa osmose confortável, noutro causando desconfortos em discordâncias entre os mesmos espaços.
Foi o caso, por exemplo, da produção seriada Batman e Robin, de 1966, onde o então estilo camp, de humor insinuoso e espalhafatoso vivido e consumido pela televisão estadunidense do período carregou o produto de características que, quando questionadas, originaram uma verdadeira ressalva nas produções em quadrinhos. Foram feitos quadrinhos para negar o imaginário criado pelo seriado. Esse tipo de readequação de produto nunca foi uma novidade na Indústria Cultural.


Mas a atualidade se apropriou de forma ainda mais predatória de mitologias, imaginários e discursos que a alguns anos limitavam-se ao mercado de quadrinhos e hoje fazem parte dos planos de ampla produção das empresas do mainstream de quadrinhos. Aqui não cabe se pensar de forma aprofundada as relações empresariais que fizeram editoras de quadrinhos serem agregadas aos conglomerados poderosos da Indústria Cultural, mas é fato que eles influenciam consideravelmente tais circunstâncias.
Os avanços tecnológicos, principalmente nas primeiras décadas do novo milênio, atenderam expectativas de um público cada vez mais exigente com a magia de ser ludibriado pelos sentidos. Efeitos especiais seduziram públicos novos e empolgaram o seleto grupo de leitores tradicionais. E as relações de “fidelidade” e de “essência” forma discursivamente valorizadas nos diálogos entre esses grupos.
 
Com a primeira trilogia dos X-men iniciada em 2000 e a primeira trilogia do Homem-Aranha em 2002, acertos valorizaram os produtos a ponto de serem compreendidos como saltos qualitativos nas adequações desses produtos à realidade massiva do cinema. Logo essa nova explosão renovou a maneira de se pensar os super-heróis dos quadrinhos no grande cinema estadunidense, vendendo ao mundo aquilo que boa parte do mesmo já conhecia nas páginas periódicas.


Obviamente houveram repetições fracas do que os anos 90 já haviam experimentados, e verdadeiras derrapadas que geraram críticas ferrenhas da criticidade social dos leitores e seus cânones. Ainda assim, tais deslizes não enfraqueceram o mercado, que alcançou seu momento mais glorioso com o popular e bem recebido Os Vingadores, de 2012. Para que o produto conquistasse tal posição, foram utilizadas várias estratégias, dos dilemas ideológicos e políticos ao senso de humor refinado e atualizado.

A partir daqui, seriam proveitosas diversas reflexões, voltando um pouco no tempo e se pensando algumas relações de quadrinhos e cinema, associando pontos de vistas dos “entendedores” e suas vivências nas leituras de quadrinhos e dos “calouros” recém-chegados aos universos mitológicos em questão. E isso é coisa que fica para o próximo capítulo!

Originalmente publicado em: http://falacinefilo.com.br/quadrinhos-e-cinema-uma-relacao-carnal