Inegável o crescimento do interesse
das produções cinematográficas em se apropriar do seguro universo dos
quadrinhos para seus atuais produtos. Diversas relações são necessárias
para que essa rede seja forte o suficiente para arrebatar o público
consumidor e agregar aos seus produtos ainda mais valores, como uma
análise histórica pode propiciar.
As relações entre cinema e quadrinhos são muito mais antigas, tendo existido, nos Estados Unidos, desde as animações aos filmes live action
(como são chamados os filmes feitos com atores reais, distinguindo de
produtos em desenhos animados). Com o sucesso dos super-heróis na
segunda metade dos anos 30 e boa parte dos anos 40, filmes pulularam
produções como as longas séries do Super-homem nas rádios em 1943 e nos
cinemas entre 1948 e 1950, Batman e Robin em série de 1943 e Capitão
América em 1944.
Seguiu-se um histórico de dialética
branda, onde a mitologia dos super-heróis foi construída através de
elaborações que de um momento surgiam de sua origem nos quadrinhos, de
outro se adequavam aos agrados conquistados pelas mídias mais
socialmente absorvíveis. As décadas seguintes foram de comunhão entre as
mídias, num momento acrescentando elementos numa osmose confortável,
noutro causando desconfortos em discordâncias entre os mesmos espaços.
Foi o caso, por exemplo, da produção seriada Batman e Robin, de 1966, onde o então estilo camp,
de humor insinuoso e espalhafatoso vivido e consumido pela televisão
estadunidense do período carregou o produto de características que,
quando questionadas, originaram uma verdadeira ressalva nas produções em
quadrinhos. Foram feitos quadrinhos para negar o imaginário criado pelo
seriado. Esse tipo de readequação de produto nunca foi uma novidade na
Indústria Cultural.

Os avanços tecnológicos, principalmente
nas primeiras décadas do novo milênio, atenderam expectativas de um
público cada vez mais exigente com a magia de ser ludibriado pelos
sentidos. Efeitos especiais seduziram públicos novos e empolgaram o
seleto grupo de leitores tradicionais. E as relações de “fidelidade” e
de “essência” forma discursivamente valorizadas nos diálogos entre esses
grupos.

Com a primeira trilogia dos X-men iniciada em 2000 e a primeira trilogia do Homem-Aranha em 2002, acertos valorizaram os produtos a ponto de serem compreendidos como saltos qualitativos nas adequações desses produtos à realidade massiva do cinema. Logo essa nova explosão renovou a maneira de se pensar os super-heróis dos quadrinhos no grande cinema estadunidense, vendendo ao mundo aquilo que boa parte do mesmo já conhecia nas páginas periódicas.
Obviamente houveram repetições fracas do
que os anos 90 já haviam experimentados, e verdadeiras derrapadas que
geraram críticas ferrenhas da criticidade social dos leitores e seus
cânones. Ainda assim, tais deslizes não enfraqueceram o mercado, que
alcançou seu momento mais glorioso com o popular e bem recebido Os
Vingadores, de 2012. Para que o produto conquistasse tal posição, foram
utilizadas várias estratégias, dos dilemas ideológicos e políticos ao
senso de humor refinado e atualizado.
A partir daqui, seriam proveitosas
diversas reflexões, voltando um pouco no tempo e se pensando algumas
relações de quadrinhos e cinema, associando pontos de vistas dos
“entendedores” e suas vivências nas leituras de quadrinhos e dos
“calouros” recém-chegados aos universos mitológicos em questão. E isso é
coisa que fica para o próximo capítulo!
Originalmente publicado em: http://falacinefilo.com.br/quadrinhos-e-cinema-uma-relacao-carnal
Originalmente publicado em: http://falacinefilo.com.br/quadrinhos-e-cinema-uma-relacao-carnal