quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Consciência de PANTERA

O Pantera Negra


A primeira imagem que Wakanda tinha, no ano de 1966, era de uma comum cidade-reino de uma civilização africana. Wakanda amarrava em si elementos visuais que impossibilitavam definir-lhe ao certo a cultura, parecia mais um grande centro simbólico de tudo que o homem branco da Europa e dos Estados Unidos do norte entendiam de África.


É uma cidade fictícia existente no universo Marvel. Sua primeira “aparição” se dá na mesma edição de surgimento do personagem emblemático que nela habita: O Pantera Negra. Essa edição foi a Fantastic Four número 52, de julho de 1966. Da mesma maneira que era fácil

retratar as cidades norte-americanas nos quadrinhos da Marvel (como expressa o uso tranqüilo de Nova York) o inverso se percebe quando é de se tratar outras nações, talvez pelo simples fato de que era melhor falar de si mesmo e representar o outro com generalização.


A Marvel inventou nações na África para posicionar suas aventuras e personagens sem ter que se envolver em questões históricas e políticas que exigiriam uma maior reflexão. Pela simplicidade, optaram pela criatividade e criaram reinos como Azania, Narobia, Halwan e Murkatesh. Wakanda é a mais marcantes dessas cidades-reino pelo fato de abrigar o mais forte personagem africano até então.
O Pantera Negra não foi o primeiro personagem dos quadrinhos negro, nem mesmo se nos limitarmos ao gênero super-herói. Quando a Marvel ainda não era a Marvel, a revista “Jungle Tales” exibia Waku, Prince of the Bantu, como estrela. Mas, longe do ideal, esse personagem só mantinha a maneira que os africanos eram representados nos quadrinhos e anteriormente nas obras literárias infanto-juvenil. O tolo selvagem.


A imagem vai se modificar timidamente com a criação do Pantera Negra, por que então terá num super-herói seu subir de degrau. O Pantera Negra é um título de nobreza do reino de Wakanda. Era preciso que o rei (ou qualquer representante da família real) conquistasse esse título através de tarefas específicas. Esse título expressa a idéia de que a sociedade de Wakanda segue uma religiosidade totêmica, onde é a Pantera Negra o símbolo máximo do povo wakandano.


Para enriquecer a mitologia do quadrinho do Pantera Negra, os seus criadores, Stan Lee e Jack Kirby, marcaram Wakanda como um território que, milênios antes, havia sido palco da queda de um meteorito contendo o valiosíssimo metal que seria conhecido como Vibranium (o que posteriormente justificaria o poder material do escudo do Capitão América), metal fictício no universo Marvel.


Com a invasão do reino de Wakanda por exploradores em busca das minas desse metal raro, Tchalla, o Pantera Negra “oficial” (já que ao longo de aproximadamente 10 mil anos, vários guerreiros ostentaram o título), buscou ajuda do Quarteto Fantástico para proteger sua sociedade. Isso aconteceu após Tchalla ter passado um período nos Estados Unidos, numa universidade, estudando. Bem, esse era o personagem em 1966.
Porém, com o passar dos anos, elementos encontrados na mitologia do personagem conflitavam com os estudos étnicos sobre os povos africanos, mostrando o quanto que o personagem estava embrenhado de pré-conceitos e visões de inferioridade para com essas sociedades. Logo se fez necessário mudanças.


Recentemente o personagem passou por uma releitura, ou melhor, uma reescrita, acrescentando em seu currículo elementos novos e posicionamentos que diferenciam bastante do que se assistia em 1966. O Pantera atual (reformulado desde os anos 80, mas condensado na série Marvel Knight de 1998 e mais recentemente no retorno de seu título solo em 2005) nunca estudou nos Estados Unidos como impossibilidade de encontrar qualidade educacional em sua nação, muito pelo contrário, agora ele apresentava avanços tecnológicos vindos de centros de estudos em Wakanda. A própria cidade tornou-se uma jóia a ser cobiçada não só pelo metal como também pelo conhecimento de seus cientistas.


O Pantera alcançou mais um patamar nessa escalada pelo respeito e pela dignidade. Ainda não é o ideal, mas é olhando para o tanto que foi subido é que se entende o valor de onde se está. Tchalla continua enfrentando dificuldades dentro e fora dos quadrinhos, sejam com vilões que ainda se vestem como conquistadores do século 19, seja com a popularidade baixa do personagem em comparação com outros pesos pesados dos Quadrinhos.


Um fato interessante, que pode muito bem ser entendido como representação do que estava acontecendo nos Estados Unidos mesmo antes de sua oficialização (sejam nas conversas populares, sejam em eventos reprimidos), é a relação do Pantera Negra com o movimentos dos Panteras Negras (Black Panther party). Ideologicamente, tirando o fato de serem símbolos de negritude, o super-herói e o movimento só tiveram o nome em comum. O personagem foi lançado na revista supracitada em julho de 1966, enquanto o movimento foi oficialmente fundado em outubro de 1966. Parece que Tchalla expressou primeiro esse movimento social, pelo menos simbolicamente, mostrando que movimentos sociais existem antes mesmo de suas convenções formais de nascimento.


O movimento dos Panteras Negras enfrentou conflitos com a polícia, muitos acabavam em mortes para ambos os lados, e logo seu radicalismo tornou-se rachadura para sua desfragmentação. Infelizmente, nos últimos anos de sua formação enquanto partido político, com ações comunitárias e educacionais, sua força sofreu queda e para alguns, o partido dos Panteras Negras acabou em meados dos anos 80.


Voltando para os quadrinhos, estamos acostumados a ver personagens nascerem e morrerem. Revistas serem lançadas por alguns anos, passar outros tantos desaparecidas, e logo serem relançadas com novas abordagens. Tchalla consegue dar uma sugestão para releitura, quando retorna após tantos anos e se mantém, desde os anos 60, como um personagem aberto a melhoras. Assim como estrelou primeiro, como título, pode ser que tenha trilhado um caminho que o Partido dos Panteras Negras tentou nos anos 80, quando se organizou enquanto partido político.


Ou quem sabe, isso já venha ocorrendo, mas desprendido de títulos totêmicos, como o crescente número de partidos e movimentos negros em todo o mundo ocidental. Wakanda ficou longe das bancas e Tchalla quase se aposentou, mas logo o mercado abriu espaço para o personagem e sua mitologia reformulada. O partido dos Panteras Negras pode estar passando por esse mesmo período de repensar para retornar, deixando seu passado radical e revendo o que os anos lhe lapidaram.
Vida longa aos Panteras Negras! (Mas sem radicalismos!)


Excelsior,
Sávio Roz

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Ninguém Conhece o Capitão América

Capitão América

É extremamente doloroso perceber o quanto que o mundo dito acadêmico está enraizado na tendência pré-conceituosa daquilo que, bastante praticado pelos pseudo-cientistas, chamaremos de “achismo”. Tudo que é visto superficialmente e que pouco teve como se defender dessa tradição preguiçosa desses falsos pesquisadores por um longo tempo tiveram suas rotulações aceitas. Um desses elementos é o Quadrinho, sempre tratado com o “achismo” de “instrumento de manipulação de massa”, mas o alvo desse texto é o sempre mal interpretado Capitão América.

Já sinto os pseudo-cientistas inquietos. Não é por menos. Na sua criação, em 1941, para a editora Timely Comics (futuramente chamada de Marvel), o Capitão América foi idealizado como um herói nacional para antagonizar com Hitler, propagando o posicionamento dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. Até então esse “achismo” infantil tem fundamento, sua própria origem diz isso. A Guerra funcionou perfeitamente para o personagem, não o contrário, como muitos “achistas” definiriam. Não foi o Capitão América que ganhou a guerra para o povo americano, ele só fez a representação nos quadrinhos do que os Estados Unidos pensava a respeito da guerra.

Mas o personagem, com essa primeira concepção, não durou muito tempo, ficando em bancas por poucos anos. A guerra acabou e o personagem perdeu seu papel no teatro todo. Foi somente nos anos 60, após o “exílio editorial”, que a Marvel (não mais Timely Comics) resolveu trazer essa figura de volta. Porém, aquela maneira tranqüila e o antagonismo simples contra os nazistas não funcionou da mesma maneira contra os comunistas (presentes nessa nova leva de histórias). Era visível, nessa época, a liberdade reflexiva do personagem, pois foi quando o quadrinho introduziu com maestria o balão de pensamento, onde o personagem expressava seu anacronismo e o quanto que as coisas não eram mais tão simples entre vilões e heróis.

Após uma melancólica fase onde o herói pensava exaustivamente sobre seu papel nesse novo mundo (o período em que ficou fora das bancas, no fim dos anos 40 até os anos 60 foi definido como o período em que o personagem ficou congelado por um ato de vilania sendo ressuscitado pelos novos heróis, os Vingadores), o Capitão América enfrentou mais uma situação difícil: A Marvel introduziu em suas revistas, pela primeira vez, um evento político real, o Impeachment do presidente Richard Nixon. Foi então que o Capitão América perdeu toda a credibilidade que tinha nos Estados Unidos. Largou o uniforme azul, vermelho e branco e começou a rodar, com a identidade de Nômade, por todo o oeste americano assistindo problemas e misérias do povo. Novamente utilizando o uniforme tradicional (a bandeira), o Capitão América viu, na segunda metade dos anos 70, uma Nov York cheia de problemas sociais. Com sua mentalidade dos anos 40, teve que entrar em espetaculares diálogos com o personagem Falcão (super-herói negro, com sua origem suburbana, morador do Harlen, conhecido bairro carente da grande maçã), aprendendo mais sobre a realidade americana tão diferente de seu idealizado passado. “Capitão, os tempos são outros...”, diziam seus colegas super-heróis. É fato dizer que o personagem manteve uma postura mais humilde, trabalhando como desenhista free-lance para revistas e jornais, ganhando pouco, muito diferente do mesmo personagem que nos anos 40 era protegido pelo exército.

Negou uma proposta de candidatura a presidência nos anos 80 e enfrentou ainda mais problemas internos de uma minoria americana, sendo que foi nessa fase, junto a seu companheiro Falcão, que o Capitão defendeu os direitos civis, como a igualdade étnica e respeito à homossexualidade (tenho as revistas que comprovam isso, pseudo-intelectuais que estão duvidando). Após isso veio uma fase mais branda, nos anos 90, que tentou dar um ar mais “americanóide” ao personagem, mas foi pessimamente recebido pelos leitores, comprovando que o Capitão América “imperialista” não fazia mais parte dessa realidade histórica. Voltando, na segunda metade dessa década, a ser o personagem mais próximo da política interna americana. A queda das Torres Gêmeas jogou o personagem contra o Terrorismo, mas também o fez pensar o modo em que seu país estava agindo, criticando-o.

Assim, o Capitão América foi, sem dúvida, totalmente contrário ao modo tradicional de se pensar seu papel como garoto-propaganda do imperialismo americano. Recentemente, o personagem se envolveu numa briga medonha contra seu governo, sendo acusado de traição e perseguido pelo exército e por alguns companheiros de outrora. Tudo para defender a liberdade individual e demonstrar um desgosto ao governo vigente, pois os Estados Unidos (no mundo ficcional da Marvel) obrigou por lei federal que os Super-Heróis sejam agentes do governo. O Capitão se posicionou contra. O desfecho da polêmica história é a sua morte, assassinado pelo mesmo país que veste em seu uniforme.

O “achismo” não serve de nada para pesquisadores em História, pois apenas mantém o freio pisado quando falamos de avanço intelectual. Ou seja, definir as coisas sem conhecer é extrema burrice. Como disse Chico Castro Jr, em matéria ao jornal A TARDE de 4 de agosto, contextualizar é preciso. E conhecer aquilo que se critica, mais ainda”. Tenho dito.


Excelsior, Sávio Roz

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Escolas clássicas de armas do Japão




O Arquipélago japonês possui uma longa história com a marcialidade, por conta, principalmente, de sua relação histórica e sócio-econômica com a China. Vários elementos culturais chineses eram importados ao Japão e, então, compatilibizado e reestruturado à sua sociedade e política. O xamanismo tradicional do Japão e o budismo trazido da China foram suas principais bases filosóficas aos seus sistemas de luta.
Desde o século XII, com uma elevada relação diplomática com a China, seu mundo social e econômico foram reflexos reelaborados de suas necessidades. Nos séculos seguintes, o Japão foi um mundo em constante guerra, batalhas entre chefes militares locais chamados Daimios. Uma nação tão mergulhada em pequenos conflitos regionais se moldaria uma nação de guerreiros especializados. Essa especialização também foi aprendida dos moldes chineses, mas nas terras nipônicas ganhou uma singularidade sem igual.
O complexo conhecimento sobre sistemas de luta no Japão ganhou o nome de Bujutsu, ou “virtudes marciais”. Sua figura central é o Bushi, literalmente “guerreiro”, e este assimilava conhecimentos sobre armas de diversas naturezas e combates desarmados. Quando o Bushi se especializada e concentrava seus serviços a um senhor local, isso a partir do século XII, ganhava o nome de Samurai, do antigo japonês saburai, “aquele que serve”.
Com sua origem ligada à guerra e combate entre indivíduos, o Bujutsu tem em sua base de idealização a morte de seu adversário. O treinamento e as suas técnicas eram rigorosos e direcionados a essa meta. Mas através dos conceitos do Budismo esotérico, concepção de elementos chineses como o Yin e o Yang e os cinco elementos tradicionais, a conduta do Samurai não limitava seus estudos apenas à marcialidade. Era preciso também, além das habilidades com o Arco, a espada, a lança e outras armas, o conhecimento sobre música e a cerimônia do chá, adaptações ocorridas após o extenso período de guerras na unificação do Japão pelo shogunato de Tokugawa.
O Budismo Zen, compatibilização japonesa do budismo Chan, do mestre Bodhidarma, influenciou, a todo momento, as mudanças ocorridas no pensamento social desde o homem do campo até a elite samuraica. A “espada e o Zen” caminharam juntos, formando um novo tipo de pensamento que encontrou seu ápice no século XVII, no período denominado Edo, por conta da nova localização da capital do poder central, entre 1603 a 1867. O Bujutsu perderá a expressão “habilidade, arte” de seu nome e tornar-se-á Budô, o “caminho da marcialidade”. A idéia de Dô será oriunda do conhecido Tao dos chineses, energia universal formadura das coisas.
Dessa maneira, as artes marciais, inicialmente as japonesas, passarão por uma importante transformação. Após um turbulento período de guerras e conflitos, o clã Tokugawa assume a liderança do país, reduzindo o poder dos Daimios e trazendo um período de paz que possibilitou a dedicação às artes refinadas, principalmente para a classe guerreira. O conhecimento de arranjos florais, da cerimônia do chá e da caligrafia se fizeram importantes da formação do homem japonês. Da mesma maneiras, sutilezas espirituais ganharam espaço no mundo simbólico das artes marciais. O Budô, escrito com os mesmos caracteres chineses de “parar duas lanças”, incorporaria concepções pacifistas. Na passagens dos séculos XVII para o XVII, era cada vez mais comum o uso de espadas de madeiras, feitas com pesados carvalhos, para serem utilizadas nos treinos, evitando acidentes entre os praticantes. Entre o século XVIII e XIX, a Boken, essa espada de madeira bruta, seria ainda substituída pela Shinai, uma arrumação de bambu específica para combates menos danosos. A arte do espadachim deixará, então, de ser um meio de sobrevivência para se tornar um caminho de iluminação espiritual. A desmilitarização do período Edo dará forças a essas mudanças, nascendo dois outros processos nos sistemas de luta: a especialização e a competição. É de grande dificuldade dizer onde as mudanças nos sistemas de luta são reflexões das mudanças sociais no momento histórico.
A restauração Meiji acarreta em novas mudanças nos sistemas de luta, armados e desarmados, do Japão, em 1867. Líderes militares do Japão perceberão atrasos militares e tecnológico de suas forças, deixando o Japão abaixo do nível de poder das outras nações. Entre as reformas do imperador Meiji, as que mais se destacam enquanto significativas para a vida do guerreiro são o desarmamento dos Samurais, que causou revoltas e insurreições, e a criação de uma força policial nacional que ocupou o antigo papel da casta guerreira.
Até o século XIX o Japão conhecia sistemas de lutas de agarramento, lançamentos e chaves chamados Ju-Jutsu, que posteriormente chamar-se-ão Jiu-Jitsu. Um estudioso da marcialidade, Kano Jigori, assimilou valores culturais, compatibilizou com a educação vigente do período e em 1882 criou o Judô. Suas raízes estão no Ju-Jutsu, mas seu sentido muda de um sistema de uso para o combate bélico para o combate espiritual, acrescentando o “caminho” a sua nomenclatura. Seu currículo de técnicas e métodos foi denominado Kodokan Judô. Da mesma forma ocorreu com o sistema de luta japonês que utiliza técnicas de chave através de movimentos circulares estudados minuciosamente, o Aiki-ju-jutsu. Com o passar do tempo, e as nuances sociais envolvidas na desmilitarização de uma classe guerreira, assimilou o conceito de “caminho” e tornou-se o que conhecemos por Aikidô. Foi na busca de benefícios sociais que Ueshiba Morihei formulou o Aikidô como uma arte marcial suave, porém poderosa de contra-ataques.
Enfim, muitas artes marciais acabaram ganhando suas versões espiritualizadas, concentradas em conceitos filosóficos necessários para a construção de um homem marcial equilibrado. Essa tendência ocorreu de forma inversa na China, mas no fim das contas essas estruturas marciais encontraram semelhanças. E foram esses os novos caminhos das artes marciais até os dias de hoje.

Sávio Roz

Artes suaves da China



As tradições Shaolin, sistema duro ou chamado externo, galgado na filosofia budista foi criado como uma saída rápida aos conflitos bélicos com os mongóis que os chineses enfrentavam. Alguns estudiosos da marcialidade demonstram em tradições orais a antiguidade do sistema interno, ou suave, de luta, muito mais antigo que o sistema de luta interno.
As semelhanças entre os sistemas comprovam as relações profundas que possuem, sejam como nascido um do outro ou mesmo como inter-relação de troca de conhecimentos. Isso apresenta-se no uso das formas e posturas de animais e no uso de simbolismos e outros elementos. As artes suaves da China, o sistema interno, têm uma relação ainda mais profunda com o mundo natural. A noção dos cinco elementos naturais, conceito taoista. As raízes desse pensamentos, da filosofia chinesa, estão no naturalismo xamânico, da pré-história da humanidade. Esse vínculo místico entre homem e natureza é reflexo da vida dessas comunidades de caçadores e coletores da China neolítica. A dependência natural exigia uma intimidade profunda com o mundo em sua volta.
Assim, entendemos o taoísmo como o homem no seu contexto com o mundo natural, como faremos com o confucionismo gerando um homem em plena relação com a ordem social. Embora o Tao Te Ching surja como livro fundamental na visão de mundo taoista, as idéias são muito mais antigas, provavelmente uma tradição oral comum a civilização chinesa em desenvolvimento. Na idéia de formação do universo dos gregos, a ordem é gerada de um mar infinito de caos, mas, no caso chinês, esse universo é regido por uma força intrínseca, além da existência e além da não-existência, chamada Tao. A força Tao, grosseiramente traduzida como caminho ou via, se manifestará nas coisas do mundo através da energia vivaz do Chi. O Chi irá então dividir o universo em dois caminhos, duas oposições, mas que não se negam, se completam, formando a o plural e complexo universo. Assim teremos luz e trevas, calor e frio, rigidez e maleabilidade, forças unidas para gerir a existência das coisas. Assim, nasce a idéia de Yin e Yang.
Os cinco elementos, através das forças Ying e Yang, irão se combinar diversas vezes e de diversas maneiras, de maneira dinâmica, para obter-se o mundo natural. Terra, água, fogo, metal e madeiras irão nascer uns dos outros, e, ao mesmo tempo, serem destruídos pelo anterior. Não é de se surpreender a idéia de que o taoista chinês muitas vezes vivesse como um eremita. O contato da natureza era necessário para a compreensão desses conceitos complexos. Era necessário um rigoroso estudo empírico do mundo natural.
Basicamente, teremos três artes suaves: Hsing-I, Pa-kuá e T´ai Chi Chuan. Seus nomes, ou melhor, as traduções dos ideogramas que compõem seus nomes, irão explanar seus modos de pensar. O Hsing-I trabalha com o uso da tradução racional das formas, por isso seus ideogramas juntam a concepção de “forma” com a transcrição do que se pensaria enquanto “intenção – idéia – mente”. Não muito complicado de se entender, essa arte utiliza-se de movimentos “pensados” e, assim como nas artes baseadas em movimentos de animais, entender esses movimentos para melhor aplica-los, melhor assimilar vantagens deles. O Pa-Kuá é a arte marcial do sistema de adivinhação tradicional chinês, o I-Ching. Essa compilação de conhecimentos esotéricos é utilizada como estudo energético do Chi, seja para fins de saúde, busca de riqueza, melhoria de vida, bons fluidos, etc. O Pa-Kuá irá trabalhar também a idéia de manipulação da energia Chi com os oito diagramas do I-Ching, por isso seu nome.
Por fim, teremos o T´ai Chi Chuan, considerado o sistema de luta mais praticado do mundo, utilizando-se de movimentos suaves, recorrentes da concepção de controle e manipulação da energia Chi do indivíduo. A arte marcial do ceder, será assimilada pelos Okinawanos enquanto conceito para a formulação do que chamaremos de Karate. Os conhecimentos dos Pontos vitais, para os sitemas suaves de luta da china, serão explicados, da mesma forma, com a idéia de manipulação da energia vital, o Chi.

Sávio Roz

As tradições Shaolin



A china, em relação com o restante do mundo asiático, sempre teve posição de destaque, 1.500 anos, no comércio das especiarías e na pluralidade dos sistemas marciais. Boa parte do trajeto da rota da seda se dá dentro dos limites de seu território, unindo reinos e populações diferentes. Os sistemas filosóficos e religiosos, que suas artes marciais internas dependem, floresceram com vigor. Dessa forma, muitas artes chinesas brotaram e foram adaptadas em outros países, como o Japão. Os sistemas marciais, assim como os sistemas filosóficos e religiosos sempre andaram de mãos dadas, o que fez com que disseminassem com facilidade pela Ásia.
Encontraremos, nas obras sobre o tema, o termo Wu-shu, traduzido como “artes militares”, e Kuo Shu como “artes nacionais” para os sistemas marciais chineses. Esse sistema estará subdividido entre duas escolas, inicialmente: escola dura e escola mole. Essa conveniente classificação enganar se for entendida como diferentes, divididas por uma rígida barreira entre elas. Assim como acontece na filosofia taoista chinesa, as coisas se intercalam sem existir negações absolutas. Na escola dura encontraremos a idéia da força sendo contraatacada pela força. Na escola mole a força é usada contra o atacante. Essas duas escolas, por suas próprias naturezas, recebem, também, os nomes de Escola externa e escola Interna. Alguns estudiosos da marcialidade definem como diferença fundamental dessas duas escolas a respiração. Na escola externa, ou seja, nas artes duras, a respiração é superficial, no torax, exatamente no plexo solar. Na escola interna, chamadas artes suaves, a respiração profunda-se no baixo abdomên.
O mito de Boddhidarma explica a criação e desenvolvimento do básico sistema de luta nascido no templo Shaolin, localizado na cadeia de montanhas de Songshan, na província de Honan. Historicamente, sabe-se que esse templo auxiliou militarmente o Imperador T´ai Tsung, da dinastia T´ang (618 – 907). O templo foi construído em 495 d.C. pela administração do imperador Hsiao We, para instalação do monge indiano Batuo, chamado em chinês de Fu Tuo. Bodhidarma viria a visitar o templo no século VI, ensinando uma nova maneira de se praticar os ensinamentos de Buda, o que culminou na fundação da escola Ch´an, que os japoneses posteriormente chamarão de Budismo Zen. Depois do auxílio ao imperador T´ai Tsung, os monges guerreiros de Shaolin voltariam em 1674, na dinastia Ching, auxiliar o imperador K´ang Hsi. Nas duas participações dos lendários guerreiros-monges, títulos de nobreza foram negados, no primeiro caso, o imperador grato consentiu a continuidade do templo, no segundo, o Imperador K´ang Hsi temeu a força militar existente no templo voltar-se contra o império e atacou Shaolin sitiando o templo e incendiando-o. O templo viria novos incendios em seguida, em sua longa história.
Sabe-se que muitos monges sobreviveram a destruição do templo de Shaolin, indo a outros templos ensinar as artes de luta. Conta a lenda que sobreviventes dos eventos em Shaolin, desgostosos com os governos seguintes, fundaram as famosas sociedades secretas chinesas. Outra saída para os habilidosos monges-guerreiros foi a Ópera de Pequim, associando dança e acrobacias. Artes marciais e artes circenses sempre tiveram em comum a disciplina e o autocontrole.
A China é uma imensa nação, um verdadeiro universo de etnias e grupos populacionais. Robert Smith, em seu livro Asian Fighting Arts, enumera mais de 400 estilos distintos. Esses estilos, cada um a sua maneira, entrelaçaram-se com os sistemas filosóficos, como taoísmo e confucionismo, e religiosos, como as várias escolaridades budistas. Os sistemas de luta são, para as concepções filosóficas, técnicas auxiliares ao progresso espiritual.
As artes marciais foram fundamentais na formação das sociedades secretas chinesas. Problemas políticos e perseguições insentivaram a formação dessas organizações, que foram mais que movimentos sociais chineses, mas, também, núcleos de intensões revolucionárias contra autoridades abusivas. São citadas, nas eventualidades dessas sociedades secretas enquanto força política, os Boxers e a Tríade. Uma rebelião Pa-kuá, entre 1786 e 1788, expulsou os estrangeiros do território chinês, ficou conhecida como a Revolta dos Boxers. A Tríade, cerimonialmente semelhante a maçonaria, começou como uma organização revolucionária para depor o imperador. Tristemente, tornou-se, nas relações modernas, representantes do crime organizado da China. O desconforto social entre XVIII e XIX causou mudanças fundamentais nas estruturas políticas e sociais. A restauração Ming nunca ocorreu, como era desejo dos revolucionários, mas houve, então, a revolução comunista, estabelecendo-se a República Popular da China. Assim com a muitos séculos antes, as forças marciais viram-se ameaçadoras demais para os poderosos governantes e, na revolução Cultural de 1960 a atividade marcial foi perseguida e desencorajada. Escolas marciais foram desaprovadas pelo Estado, com temor de formarem grupos paramilitares fortes. Mas a sobrevivência se deu através do mercado e do cinema, em Hong Kong e Taiwan.
O Kung Fu, termo que mais se popularizou no ocidente, tornar-se-ia o conjunto de estilos oriundos de um sistema de luta original. Assim, são chamados Kung Fu todos os estilos de boxe chinês, atualmente. Kung Fu significa “aquilo que é feito com tempo e dedicação”, e se aplicaria a quaisquer artes, seja dança, marabalismo, culinária ou música. Mas fortificou-se como a dedicação aos sistemas de luta. Boa parte da culpa é do cinema, que tratou o termo de tal forma. Mas não foi somente na modernidade que o papel de diversão das artes marciais se aplicou, já que em festividades tradicionais chinesas as demonstrações de lutas, de sequências ensaiadas de movimentos e até a famosa expressividade da Dança do Leão, fazem-se presentes. Virtuosismo acrobático e coreografias fazem parte desse universo que em momento algum conflita com o dilema moral das artes marciais.

Sávio Roz

Kalaripayit




Compreendendo a dimensão estrutural das artes marciais e suas relações com a história humana, nos reportamos à Índia, onde, segundo alguns estudiosos, existe o mais antigo sistema de luta da história. É preciso lembrar que, as técnicas nascidas das chamadas “lutas de agarrar”, onde não se define um sistema complexo, mas umas séries de elementos significativas no combate desarmadas entre indivíduos, são ainda mais antigas, perdendo-se na pré-história humana. O Kalaripayit destaca-se pela conjunção de fatores que o classificam como sistema de luta, e não conjunto de técnicas de combate homem a homem.
Textos indianos antigos já relatavam esse primitivo sistema no exército indiano, seja na infantaria, na cavalaria, em carruagens e no domínio e controle de elefantes. A própria divisão social da Índia, milenar, demonstra a especialização de uma de suas castas para a vida bélica. A casta Kshântriyas, desde a pré-história, relaciona a vida social e religiosa às práticas marciais. A vida artística, também milenar, da Índia, apresenta a relação desse povo, principalmente dessa casta, com a guerra e o sistema de luta. O teatro dançado, chamado Kathânkali, apresenta movimentos elaborados respectivos de um estudo minucioso de técnicas de lutas, também refletidas nas ornamentações de templos onde aparecem figuras humanas em combate.
Como se perceberá ao longo dos estudos sobre artes marciais, os mestre dos sistemas de luta são, em geral, também grandes conhecedores da medicina. Por trabalharem diariamente em seus treinos com lesões, torções e danos ao corpo, acabam relacionando-se com um conhecimento de cuidados e tratamentos específicos e avançados. Assim, na percepção das origens da Medicina Indiana tradicional, chamada Ayuveda, encontraremos as relações dos sistemas de luta presentes. Do mesmo modo, o conhecimento em cima das técnicas de massagens, são necessários e aplicados em academias marciais. Hematomas, estiramentos musculares, danos em centros nervosos e ossos fraturados são rotinas em academias diversas de todos os sistemas de lutas da humanidade. O mestre torna-se um especialista em medicina, os Shastras, textos indianos antigos, apresentam tal conhecimento do corpo humano, seus pontos vitais. Locais onde se poderão aplicar golpes específicos para a eficácia de danos melhores, como a têmpora, o osso esterno, a veia jugular, testículos, entre outros. Esse estudo do corpo, na índia, não se limitou ao corpo humano, fazendo os adestradores de elefantes ainda mais eficazes no treinamento de tais animais para uso em combates.
O Kalaripayit é o nome indiano do seu mais antigo sistema de luta. Significa, grosso modo, “prática em campo de batalha”, e tem suas raízes na tumultuosa vida bélica da Índia em seus primórdios. Textos antigos, como o Mahabaratha, apresentam guerras intermináveis. O espaço ideal para criação e adaptação de um sistema de luta complexo e poderoso. Uma casta especializada é um forte elemento na construção de um sistema vigoroso de luta, e essa tendência se repetirá ao longo da história dos sistemas de luta asiáticos. O Kalaripayit também terá sua evolução galgada na pluralidade interna de seu sistema, dividindo-se em estilos. Esses estilos não se ofendem ou se negam, apenas apresentam elementos diferenciados para cada região: Norte e Sul. Da mesma forma como ocorrerá em outros sistemas de luta, talvez por uma questão de contato entre os povos asiáticos e a troca cultural, essas divisões de sistemas atenderão posturas e movimentos tratados de maneiras diferentes dentro de um mesmo sistema de luta. No Kalaripayit, o Norte apresentará saltos mais vigorosos, posturas baixas e bloqueios estendidos; o Sul será mais livre, com movimentos circulares, posturas altas e sólidas.
O sistema de luta indiano conviverá com outras artes do conhecimento humano na índia, e se manterá da mesma forma. Sua continuidade, preservação e evolução (preservação de valores e conceitos, evolução de técnicas e movimentos), assim como acontece na Yoga, nas técnicas de massagens indianas, se fundamentará na transmissão oral. O conhecimento através da oralidade tornou-se uma tradição no modo de vida asiático, presente em grande força nos sistemas de luta. A necessidade de um mestre, conhecedor dos ensinamentos, permitia o fortalecimento desse modo de preservação do conhecimento.




Sávio Roz

A Rota da Seda e o Mito de Bodhidarma




O comércio existente entre a Índia e a Mesopotâmia data de aproximadamente 2500 a. C., sendo comentado em muitos textos comerciais. Nos séculos VI a. C. a fabricação da seda estimulou um intenso comércio entre a China e a Índia e esses caminhos ligaram a Ásia à Europa. Caravanas abarrotadas de produtos circulavam incansavelmente nas estradas que ligavam os países participantes. Tiro, Antioquia e Palmira eram cidades recebedoras dos produtos no período do império Romano.
Foi somente quando monges cristãos contrabandearam os ovos do bicho-da-seda que o monopólio dos chineses sobre o tecido virtuoso acabou, isso no século VI d. C., e a seda foi fabricada no ocidente. Se o elemento material fosse fundamental na história da humanidade, a queda da rota da seda seria absoluta. Mas esse comércio entre as nações continuou, não só com outros elementos das chamadas especiarias, mas com o progresso do budismo na Ásia. Entre os monges que viajavam nas estradas da rota da seda estava Bodhidarma, monge indiano oriundo de Kanchipuram, vindo de Madras, entre caminhadas e viagens de barco, viajou pela China, chegou ao templo Shaolin onde se estabaleceu e fundou os ensinamentos que ficaram conhecidos como budismo Zen. Um relato de um viajante, Yang Hsuan-Chih, em 547 d.C., cita-o como um homem auspicioso, de barba e cabelos escuros, entre outros traços indianos. A falta de informações sobre Ta Mo, Como Bodhidarma é chamado na China, pode ser explicada pela posição inicialmente herética de suas práticas.
O mito de Bodhidarma, mesmo que não se concretize enquanto verdade explicita as eventualidades que fazem parte das origens dos grandes sistemas de luta da Ásia. Relacionam o comércio forte e ativo da rota da seda, as relações dos sistemas e a troca cultural das caravanas e dos guerreiros contratados para protege-las.

Sávio Roz

As artes de luta na Europa e no Oriente Médio na antiguidade




Diferente do que se possa imaginar, já que se vincula diretamente o termo “arte marcial” aos sistemas de luta conhecidos no oriente, o ocidente produziu manifestações marciais significativas. Esses sistemas de luta ocidentais não são tão conhecidos hoje em dia por conta da desvalorização histórica, a desvalorização filosófica e teológica que acompanharam as sociedades do chamado ocidente. O contrário aconteceu no oriente, onde a cultura, a filosofia e a religiosidade não só permitiram como estruturaram melhor e organizaram os seus sistemas de luta locais.
Para se entender melhor essa base filosófica e religiosa que se deu de maneiras diferentes nos dois lados convencionais é preciso ter em mente a divisão corpo e mente. As culturas ocidentais, em suas complexas nuances, sempre apresentaram uma separação nesses aspectos de forma antagônica. Separou-se a parte somática da parte mental e espiritual. Aristóteles, por exemplo, argumentava que o ócio permitia a expansão da mente, desvalorizando qualquer desenvolvimento do corpo. Esse pensamento se enraizou na filosofia, mesmo não sendo regra social, já que as guerras continuavam a demonstrar o contrário. Com o advento do cristianismo, esse pensamento ganhou um espaço ainda mais pragmático e o mundo ocidental demorou a entender a frase “mente sã, corpo são”. Como explica José Augusto Maciel Torras, “uma idade média teocêntrica e uma idade moderna antropocêntrica nos fez ter somente idéias de desvalorização somática”.
Mas esse problema, mesmo que tenha castrado avanços nas chamadas artes marciais ocidentais, ou mesmo limitado sua trajetória, não consistiu numa extinção das modalidades marciais tão antigas no ocidente quanto sua própria história social. Toda a documentação que relata guerras e vida belicista das sociedades da antiguidade ocidental apresenta elementos dessa história. Os poemas de Homero, as metamorfoses de Ovídio, A canção de Rolando e outros textos medievais, Epopéia de Gilgamesh, entre outros, trazem uma carga de habilidades, conhecimentos e tratamentos diferenciados aos combates armados e desarmados.
O fato de uma diferenciação dos guerreiros das antiguidades em armas e atividades, montando uma hierarquia dentro dos exércitos, com os Imortais no topo dos exércitos persas, a tropa real do Egito faraônico, os senhores da guerra mesopotâmicos, enfim, uma leva infindável de especialistas nas artes da guerra. Eis que nessa antiguidade se estruturam os sistemas de luta dos gregos. Sua mitologia, assim como ocorreu em outras civilizações, é bem verdade, narra os ensinamentos de Hermes aos homens de um sistema de luta que ficou conhecido como pancrácio. Pancrácio na etimologia da palavra significa “dominar a tudo e a todos”. Sistema de luta violento, não menosprezava nenhuma parte do corpo, aceitando golpes de mãos, pés, joelhos, cotovelos, etc. O pancrácio se embasava da filosofia grega, do culto ao corpo, entre outras modalidades esportivas. Era elemento fundamental nos jogos olímpicos e vem de sistemas de luta comuns nas cidades-estados gregas, praticados até mesmo por mulheres. Esse valor à virilidade e ao combate era apreciado em particular pelos cidadãos de Esparta, cidade belicista da antiguidade grega. Assim como em outras cidades-estado gregas, Esparta possuía ginásios repletos de homens e mulheres que treinavam, exaustivamente, separados, diariamente, preparando-se às disputas públicas. O pancrácio possui elementos que encontramos também em modalidades orientais, tais como as técnicas de alavanca, o Acroquismo, que consiste em torcer os dedos do adversário até sua submissão total. Esse sistema foi aperfeiçoado, dando origem a luta greco-romana.
O Pugilato é um outro importante e popular sistema de luta da Grécia helênica. Sua antiguidade é remota, era um sistema preparatório anterior mesmo aos adestramentos com armas e em tropas. Os heróis greco-romanos Amico e Epeo, como registram os escritos de Platão, eram respeitados e temidos pelas suas capacidades de luta. O primeiro pela grande força física e pelo desfecho de sua história de vitórias nas mãos de Polluxm, lutador de um sistema que será aperfeiçoado pelo segundo, Epeo, tornando-se o Pugilato. Mitos a parte, o Pugilato ganhou enorme popularidade, expandiu-se enquanto sistema e sobreviveu até o Império Romano, assimilado aos combates de gladiadores. Nessa evolução sistemática era praticado de duas maneiras: Combates sem proteções nas cabeças ou punhos, e combates protegidos nas cabeças com elmos de cobre e tiras de couro amarradas aos punhos.
Mesmo com toda a divisão ideológica que limitava o avanço dos sistemas de luta, principalmente a coesão religiosa, a Idade Média apresentou sistemas complexos vinculados às classes de cavaleiros, em especial aqueles especializados para as cruzadas. Para esses guerreiros estagmentados, o pugilato se aperfeiçoou, tornando-se Kick (técnica inglesa que acrescentava golpes com as pernas). Os medievos franceses não ficaram muito longes desses avanços, onde o boxe ortodoxo ganhou espaço e novo nome: Savate. Esses avanços técnicos ocorreram até mesmo na Católica Itália, com o sistema chamado Borzaghino.
Os cavaleiros medievais se destacavam além das técnicas de combate com armas e em cavalos. Os períodos preparatórios às cruzadas e os grandes hiatos de paz nas cortes permitiam a pratica e o aperfeiçoamento de sistemas de lutas que, por tanto se popularizarem, chegavam às cortes e encantavam os nobres. Ricardo coração de Leão ficou famoso também por suas perícias em combates corpo-a-corpo. Incrivelmente coincidentes esses guerreiros de doutrinas esotéricas se assemelhavam aos monges guerreiros que estavam intimamente ligados aos sistemas mais antigos da Ásia, ainda mais por suas formações morais e filosóficas que não conflitavam com os sistemas de combates.
Assim podemos perceber o quanto o ocidente, mesmo com seus percalços e limites ideológicos, conseguiu produzir uma vasta e significativa rede de sistemas de luta, mesmo menosprezada pela historiografias marciais. Os sistemas de luta são compatíveis às necessidades e peculiaridades de cada povo, adequando-se aos seus sistemas religiosos e sociais. A grande vantagem do oriente é a permissividade filosófica e religiosa, além, claro, dos seus elementos peculiares e particulares.

Sávio Roz

Artes marciais primitivas do oriente




O processo de diversificação dos sistemas de luta encontrados no oriente sofreram, ao longo de séculos de aperfeiçoamento, manutenção ou transformação, um pluralismo de ramos. Os estilos se encontram e se contrapõem com a mesma facilidade quando comparados em estudos. Por isso mesmo, definir suas origens se perde em mitos elaborados e idealizados e conhecimento histórico escasso.
Cada sistema marcial tem, em sua origem social, mitos elaborados para confirmar sua natureza simbólica e manter na oralidade a sua história fundadora. Esse tipo de situação não ocorre apenas com sistemas de luta, mas com outros sistemas sociais, como dança, folclore, artes circenses, etc. Cada sistema, atendendo a sociedade original que o criou, com seus mitos relacionados, o faz enquanto preservação de valores. Seguidos cada sistema do mundo, teríamos um problema gigantesco: a falta de espaço para estudar cada complexo sistema, sua origem histórica e sua origem mítica, por isso o trabalho se limitará a estudar o pluralismo dos sistemas marciais asiáticos, famosos por sua grande quantidade de vertentes e sua força enquanto manifestação social.
A relação existente entre a Índia e a China é a matriz da diversificação dos sistemas de luta no oriente. A rota da seda interessava as sociedades participantes enquanto expansão comercial. Desde 500 a.C. a China comercializava com a Índia e as nações próximas. Essas sociedades feudais viviam em guerras constantes, além do fato da rota da seda proporcionar um número considerável de bandoleiros e saqueadores. As caravanas encontravam-se extremamente desprotegidas, o que gerou uma busca grandiosa por comboios seguros. O oriente já possuía uma tradição bélica complexa, com guerras constantes e ritualizadas, proibidas em certas épocas por questões morais e determinadas circunstâncias.
O avanço comercial proporcionado pela rota da seda gerou avanços nas estruturas das cidades, com um número cada vez maior de pessoas. Esse aumento populacional pode ser entendido como uma reação ao sucesso comercial das sociedades envolvidas no comercio expressivo da rota da seda. Nesse momento, a formação de Estados fortes se fez imprescindível. As técnicas de produção e o arsenal para os exércitos seguiram a expansão da máquina do Estado para cada recém nascida nação.
A formação de exércitos profissionais, assim como o aumento do número de seguranças individuais que acompanhavam as caravanas abarrotadas de produtos, gerou uma série de especializações nas artes da guerra. Engenheiros, cartógrafos, especialistas em sinalização, operações anfíbias e de espionagem. Essa especialização pode ser percebida nos capítulos do livro A arte da Guerra, onde o famoso general chinês Sun Tzu, em meados de 350 a.C., elaborou as estratégias fundamentais nos combates de exércitos num período recheado de conflitos desta natureza.
Esses elementos citados podem ser mais caracteristicamente encontrados na era dos Estados Litigantes, entre 480 e 221 a.C., com as longas jornadas das caravanas comerciais que trocavam produtos entre cidades populosas e importantes, protegendo-se de bandidos e foras-da-lei empregando guarda-costas especializados em combates homem a homem com ou sem armas. Essas especializações e os contatos existentes entre esses artistas marciais alimentou a evolução e diversificação das artes marciais.
Os sistemas marciais do oriente tiveram poucos conflitos com seus sistemas de valores. Na maioria dos casos, até mesmo eram confirmados por esses mesmos sistemas. O Taoísmo e o budismo raramente se excluíram e nem excluíam sistemas de luta. Kung Fu Tse (Confúcio), em torno de 500 a.C., não teve seus ensinamentos incompatíveis com as práticas marciais, muito pelo contrário, apenas deram um conteúdo intelectual e de valores à esses sistemas. Lao Tzu (300 a.C.) seguiu a mesma premissa.
No caso indiano, a própria sociedade dividida em castas possuía uma divisão de destaque para os guerreiros e seus descendentes. Essa casta compreende a vida como um conflito perpétuo, e sua religiosidade reafirma sua posição enquanto força marcial. A própria mitologia religiosa da Índia comprova essa afirmação social da classe guerreira com seus deuses em épicos gigantescos e intermináveis. Segundo a tradição Hindu, através do legado oral, os textos indianos chamados Shastras ensinam métodos de ataque a pontos vitais no corpo humano. Esse mesmo conhecimento será encontrado em outras sociedades asiáticas. Os estilos militares da Índia e da China possuem padrões de semelhança que são compreendidos nas trocas culturais das relações comerciais da rota da seda. O mesmo caminho que ligou economicamente esses dois e muitos outros países, ligou a todos nas trocas de conhecimentos de culinária, medicina, e, claro, sistemas de luta. O uso dessa rota da Seda se intensificou no século VI a.C., e foi passagem de famosos peregrinos eruditos, como Hsuan Tsang (600 a 664 d.C.), que percorreu a China e a Índia, onde se imortalizou como o Lendário Tripitaka em uma coletânea de lendas escrita por Wu Ch´eng-en que e abordou características desse período em seus escritos.
Seria uma tentativa desastrosa considerar uma origem aos sistemas de luta a uma nação especificamente. Os sistemas nasceram e se aperfeiçoaram com o passar do tempo, com seus elementos originais e seus elementos recebidos de outras culturas marciais. Ideologicamente, o budismo, o confucionismo, o taoísmo, o Hinduísmo, entre outros sistemas religiosos e filosóficos, formam a base das tradições marciais da Índia, China e resto da Ásia. Se for de definir um local de nascimento aos sistemas de luta da Ásia, as estradas da rota da seda são o local mais exato. Seus pais, monges, peregrinos e diplomatas de muitas nações.

Sávio Roz

Introdução: Problemas e paradoxos na definição e na origem histórica




Estudar as artes marciais exige uma certa compreensão das dificuldades encontradas em sua pesquisa original. O mundo define europocentricamente os sistemas complexos de luta do oriente como "artes marciais", mas encontra-se um paradoxo em sua definição.
Para começar, o termo "artes marciais" possue sua origem na nomenclatura grega, relacionando a atividade apresentada como "artes do Deus Marte". Essa falha poderia ser perdoada se não fizesse relação direta com a guerra. Claro que todos os sistemas de luta criados pelo homem são utilizados para combates, em sua supremacia, em guerras. Mas elas não se limitam a isso.
Os sistemas de luta orientais, por questões sociais e religiosas, apresentam uma relação com guerras um pouco sinuosas. Textos como os de Lao Tzu, Tao Te Ching, demonstram um certo desgosto ao combate em guerras políticas, mas apresentam um entendimento da existência dos sistemas de luta para que o justo possa se defender.
Para encurtar esse entendimento da relação dos sistemas de luta do oriente, o mal utilizado termo "arte marcial" e sua natureza belicista, parafraseio José Augusto Maciel Torras, Presidente da federação Baiana de Kung Fu, dizendo que as artes de luta "sem o burilamento espiritual, tornar-se-á uma arma desenfreada no poder do homem". Esse tipo de preocupação se confirma no modo de pensar dos grandes sistemas do mundo.
A questão da definição histórica é ainda mais complicada, pois se perde em períodos que não existem mais documentação, e até mesmo onde a documentação seria impossível, pois muitos sistemas existiam antes mesmo da escrita ser conhecida. Além do fato de ser uma rede indecifrável de mitos e especulações ao longo da história. O pouco que se sabe com exatidão é originário de trabalhos com oralidade histórica, tradições artísticas e literárias entre os séculos IV a.C. e III d.C. produtivamente.
Esses problemas iniciais jamais conseguirão tirar o esplendor de nenhum dos sistemas de luta, nem mesmo dessa forma de arte humana. Caso alguns ainda achem tudo isso muito vago, como no livro "O Caminho do guerreiro", Howard Reid e Michael Croucher, "compare-o com os esforços que se fazem para determinar a data de certos acontecimentos essenciais para o desenvolvimento de outras artes antigas - a culinária, a fabricação de vinhos, a fabricação de queijos ou a própria agricultura, por exemplo".
Enfim, esses problemas devem ser primeiramente apresentados nessa introdução para que se tome os devidos cuidados e se pense flexivelmente nos estudos e nas produções de pesquisas na área.

Sávio Roz

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Artes Marciais

Mito e História nas raízes das artes marciais

UMA ANÁLISE CRONOLÓGICA, DE SUA ORIGEM ATÉ AS TRANSFORMAÇÕES, DAS ARTES MARCIAIS E SUAS RELAÇÕES SOCIAIS COM AS CULTURAS QUE FAZEM PARTE. ABORDAGENS SOBRE DIFICULDADES NA EXATIDÃO HISTÓRICA, MITOS E REALIDADES, OBSERVANDO OS ELEMENTOS QUE AS CARACTERIZAM E AS MUDANÇAS QUE LEVARAM ATÉ SUAS FORMAS ATUAIS.

ENTENDER O DESTAQUE DAS ARTES MARCIAIS ORIENTAIS E OS FATORES SOCIAIS, RELIGIOSOS E IDEOLÓGICOS QUE PERMITIRAM SEU AFLORAMENTO E SUA MANUTENÇÃO. COMPREENDER A ARTE MARCIAL NO OCIDENTE, SUA DESVALORIZAÇÃO IDEOLÓGICA E HISTÓRICA. POR FIM, ANALISAR A RELAÇÃO QUE A MODERNIDADE TEM COM ESSAS MESMAS ARTES DE LUTA..

CONTEÚDOS:
Introdução: Problemas e paradoxos na definição e na origem histórica
As artes marciais primitivas do oriente
As artes marciais na europa e no oriente médio na antiguidade
A rota da seda e o mito de Bodhidarma
O Kalaripayit
Tradições Shaolin
Artes suaves da China
Escolas clássicas de armas do Japão

Bons estudos!

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

O ESTIGMA DO BATMAN


_____Eu era muito criança quando vi pela primeira vez aquela figura humaniode trajado de morcego e escondendo-se em sua capa. Tudo bem que sua capa era azul, naquele momento, pois, como sou da primeira metade dos anos 80, peguei uma fase interessantíssima de transição, em que todos os personagens estavam passando por mudanças em suas configurações e Neil Adams direcionava o velho morcego para o que chamaríamos de “Crise”, sua história seria recontada pelo Frank Miller em sua obra canone “O Cavaleiro das Trevas”. Isso ainda nem fazia-se como fato em minha cabecinha infantil.
_____Eu só via naquela figura uma certa paternidade desencontrada, acredito, já que a sua vivência do mundo (um mundo fictício muito semelhante a realidade mas com suas peculiaridades que naquele período em nem imaginava existir). Eu queria aprender com ele para viver naquele mundo, que para mim era o mesmo que este. As cores e as ações altruístas de grandes seres mitológicos representados em desenhos e vivos nas sequencias de seus quadrinhos era tudo que eu precisava para me sentir vivo, ou melhor, para me sentir um igual.
Será que eu acompanhava aquelas figuras fantásticas por que no fundo existiam nelas coisas que eu tinha em mim ou, por não fazer idéia, tudo aquilo estava de alguma maneira moldando a minha personalidade? A resposta parece seguir óbvia por um lado, mas o lado contrário mantém uma certa verdade incontestável. Complicado nessa etapa da vida tentar definir o que aconteceu, já que a mitologia dos quadrinhos e essas criaturas além da realidade já faziam e fazem parte de mim de uma maneira que a separação é praticamente impossível.
_____De certa forma eu me formei enquanto pessoa, cidadão, ser humano, com esses seres não-humanos mas muito mais humanos que os seres humanos que me cercam até hoje. Na busca de uma resposta para qualquer coisa sei com exatidão que tudo isso corresponde a noção de valores que esses meus amigos de papel e suas histórias fabulosas sempre me trouxeram, seja de um modo simplista e infantil, seja com a seriedade de uma narrativa policial ou psicológica. São valores que, correspondendo aos que já havia acumulado ou simplesmente absorvido, hoje fazem parte de minha personalidade ao ponto de quase não ser exagero dizer que sou um personagem de quadrinhos perdido no mundo real.
_____Acima de tudo isso, aqueles quadrinhos me passaram valores reais, do meu mundo real, de acontecimentos históricos a tendência, foi por eles que eu compreendi primeiramente o mundo. Praticamente foram os quadrinhos que definiram minhas visões de mundo e nortearam as minhas escolhas profissionais e me apresentaram os anos 80 que vive e logo em seguida me apresentaram os anos 90 e continuam me mostrando de forma prazerosa essa minha realidade.
_____Meu pai morcego está presente em todo esse aprendizado. Primeiro com suas cores azuis e suas longas cenas de ação individual, quase solitária, se não fosse a minha invisível presença acompanhando atentamente seus passos e atitudes e chegando a um nível onírico de ler em linhas seus pensamentos. Foram suas falas e pensamentos que me ensinaram com exatidão a ler além dos muros da pequena escola no Jardim Cruzeiro. Foram as representações de sua figura que me ensinaram a desenhar sua anatomia e suas sombras. Foram suas indagações que fomentaram o meu pensamento crítico. Batman me ensinou a ser um homem, mesmo quando eu ainda era um menino.
_____Suas conversas explicativas com o seu parceiro, Robin, foram quase que direcionadas a mim. A função inicial do Robin, o mais marcante sidequick, era a de ouvinte dessas formulações da ação, que deveriam ser quase que sempre introspectas mas ganharam espaço enquanto explicação ao seu discípulo. Na mesma sala de aula que Robin aprendia a ser um Batman eu aprendia a ser uma pessoa melhor que poderia se estivesse à deriva desde a infância. Essa construção de valores é necessaria a todos os seres humanos, como referências familiares, sociais, comunitárias. O ser humana precisa se sentir parte de algo, fazer parte de alguma coisa para construir a sua personalidade e existir enquanto ser social. Eu tive a ajuda dessas obras em qaudrinhos para isso.
Hoje, eu e meu paternal amigo morcego comemoramos a vida e o aprendizado. Que o sofrimento seja sempre algo de útil e que a tristeza seja sempre temporária.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

O Homem de Aço






Kal sempre foi um otimista Romântico. Sua visão de mundo, mesmo que tropeçando em momentos de angústia e dúvida, sempre focalizou como um farol a esperança. Uma esperança que está sempre presente quando responde sem querer a si mesmo de suas questões. Esse tipo de pensamento, ou quem sabe a maneira que trata as pessoas, sempre denotou uma certa ingenuidade, para alguns, tolice.

Mas de tudo que se pode sintetizar de Kal, seja no seu convívio aberto e social com colegas ou num espaço mais reservado de sua amizade, o de ser tolo não corresponde a uma verdade. Kal nunca foi tolo, talvez um pouco frágil quando acredita demais nos outros, mas ele diria que eu acredito de menos, então prefiro manter essa rotulação de fora de tudo isso. Kal acredita nas pessoas. E acredita, mesmo quando parece falar o contrário, que tudo dará certo no final. Mesmo que nem queira pensar nesse final no momento. Mesmo que esteja muito chateado para isso. Sua fé está além das pessoas, pois Kal acredita nos sentimentos. A fé que deposita nos próprios sentimentos é tamanha que é praticamente impossível não acreditar neles, pois são inegavelmente autênticos. O Homem de Aço acredita tanto em seu coração de carne que sofre quando é machucado diretamente nele, o que é paradoxalmente interessante. Como se nada pudesse acabar com seu corpo, mas sua alma está em constante ameaça pelos sentimentos verdadeiros que nutre.

Mesmo quando os sentimentos mais verdadeiros que estejam presentes em seu momento não sejam tão benévolos, ainda assim não são nascidos de perversões e maldades. Kal, mesmo decepcionado, enraivecido ou irado, ainda é um ser de justiça. Mesmo quando questiona o mundo e as coisas que nele acontecem (e espero que esse blog se encha de perturbações escritas), Kal é um homem de fé nos sentimentos, de esperança e otimismo. Se não fosse um realizado em si, seria um idealizado. O que não quer dizer que não possua defeitos e imperfeições que sabe de si próprio e quando não ri e promete melhoras, esforça-se de fato. É praticamente encontrar um "Super" dentro do "Homem", sem perder nunca sua metade de realidade palpável. Mesmo quando poderes não existem trazidos de um sol amarelo, Kal demonstra na sua natureza humana o "Super" que está sempre pousado orgulhosamente em seu peito. Um símbolo que lembra a ele o tempo inteiro daquilo que são feitos os heróis de verdade: Exemplos.

Kal é um exemplo não a ser seguido religiosamente, com idolatria. É um exemplo a ser analisado e percebido o quanto se está longe de um ideal de humanidade. Mesmo que não seja e nem pretenda um ser humano perfeito, Kal é um amigo querido, um filho amado, um irmão amado, um amor correspondido. As pessoas em sua volta expressão isso a todo momento. Kal é algo mais precioso que o ideal, é real. E é o real cheio de defeitos e imperfeições que compreende aquilo que a nossa realidade precisa, de um aprendizado constante e de um sofrer com proveito.

Clark é meu amigo.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

ηθική

ηθική

O problema dos valores está na sua chegada, na sua expressão final chamada atitude, chamada conduta. Esse é o grande diferencial das pessoas. Por que os valores podem expressar uma generalização que não corresponde à decisão final do indivíduo, ou seja, sua conduta. Essa rede de valores, quando efetivadas em conduta fazem do homem um acima dos demais. Não há arrogância, não há prepotência.
A sociedade está encharcada de valores que podem corresponder a definições culturais, aceitações sociais, convenções antropológicas ou mesmo afirmações religiosas. A humanidade aprendeu a definir coisas como bom e mau, certo e errado, belo e feio. A Filosofia entra como ciência fundamental na construção de um conhecimento a cerca desses valores humanos. Na Filosofia Estética encontramos os preceitos básicos para se entender a construção da beleza, a fuga da feiúra. Mas a Lógica, outra categoria de análise da Filosofia, que trabalha com a verdade das coisas, consegue entender essa busca do belo como um mecanismo de seleção natural onde o que aparenta perfeição estética reflete a qualificação genética. A definição dessa lógica do belo é claramente uma expressão nítida da realidade, da existência, percebida e contemplada pela Metafísica. Os valores de nossa realidade correspondem em prática ao espaço teórico da Epistemologia, que, por se tratar de uma teoria do conhecimento, delimita aquilo que é unicamente humano.
Mas há um valor humano que não pode ser delimitado a Estudos da natureza lógica ou mesmo a natureza ontológica. Uma verdadeira religião ateísta onde sua pregação é o saber e seu campo de batalha está no confronto do certo e do errado. Esse é o espaço daquilo que todos balbuciam como Ética, mas poucos a conhecem com precisão. Essa prática moralizante do espaço-tempo é a mais humana de todas. A lógica trás informações, leis científicas que dizem respeito à organização da realidade, do mundo físico. A metafísica explora a outra vastidão que habita a cabeça do homem. Mas é a ética que julga e condena os valores humanos, na dicotomia do bem e do mau, nessa dança interminável desse maniqueísmo de valores.
Todo ser humano sabe essas diferenças, mas a prática dessas modalidades é desigual pois fazer o bem é demasiadamente difícil e produz pouca recompensa material, mas fazer o mal é fácil, rápido e promete tudo que for possível no seu desfecho. As pessoas compreendem esses valores, mas não fazem a escolha por questões Éticas, mas por puro medo. Estão sempre fazendo aquilo que rotulam de errado, mesmo que usem de toda desculpa possível para justificar seus deslizes de conduta. O mal é uma desculpa do covarde para seus próprios sofrimentos, tem a desculpa de ser o caminho que seus prejuízos o empurraram.
Agindo pelo medo, o fraco comete todos os atos que a Ética julgou errados e malignos, enquanto que os atos corretos e benignos sempre são vistos como insuficientes e desprovidos de ganhos. Por ser fácil o mal é mais usual, por ser lucrativo o mal é mais objetivo. O mal, em certos momentos, até apreende a configuração estética de belo, enquanto que a bondade, paradoxalmente, ganha aspecto de feiúra. A bondade é motivo de risos, o mal de gozos. O ponto crucial de todas as mazelas sociais que a modernidade herdou de toda a antiguidade é explícito nessa condição de valores que a Ética tem em sua frente, o mundo é o que é pelo mal que as pessoas escolhem por pura perversão e medo.
Enfim, é essa dualidade de valores que está sempre dividindo o homem, todos os dias. Não é tão preta e branca quanto uma falsa Lógica poderia constatar, existem diversidades da tonalidade cinza que o olho humano não conseguiria vislumbrar. Mas no fim de todas as coisas o que realmente importa não é conhecer ou não a Ética e sua dicotomia bem/mal, mas ver na prática dessa escolha a definição da natureza de cada indivíduo.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

OS MELHORES DO MUNDO

Houston... Houston... TZZZZZZZZZ... Estamos com um probleminha na transmissão... TZZZZZZZZ... Os detect... TZZZZ... zaram algo. O objeto n... TZZZZZZ parece... parece... um homem... TZZZZZZZ... Houston... Acho que vimos o Super-homem...

Todas as viaturas, estamos seguindo o carro... POW! POW! Droga, Allen, eles estão atirando!!! Nunca alcançaremos com eles naquele carro tunnado. POW! POW! POW! Acerta o pneu, diabo! O que foi Aquilo?? Ali! Em cima do outro carro! Parece que nosso homem-morcego resolveu agir hoje a noite...