quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

TCC - História Cultural dos Quadrinhos


Dia 23 de Dezembro, às 18 horas, na sala 50 do campus Federação da Universidade Católica do Salvador, apresentarei o trabalho de conclusão de curso que venho elaborando desde o quarto semestre. É uma curta apresentação, ou melhor, a defesa de uma tese sobre o papel cultural do gênero "Super-herói" dentro da mídia quadrinhos e de seu inserimento no espaço do entretenimento e do mercado.

O trabalho tem por objetivo aprofundar os conhecimentos sobre a mídia da arte sequencial que no Brasil conhecemos como Histórias em Quadrinhos. A minúcia diante da construção desse meio de comunicação, seja no aparato técnico de sua produção, como a relação entre leitura textual e leitura icônica, seja na elaboração de seu mercado expressivamente no século XX é fundamental para a compreensão histórica, filosófica e cultural desse universo particular.

A compreensão da literatura inglesa e norte-americana, assim como os avanços nos conhecimentos científicos, são de suma importância para se entender o nascimento do gênero Super-herói dentro da história dos Quadrinhos. O foco principal do trabalho está, esclarecidamente, no surgimento dessa mitologia contemporânea na história dos quadrinhos e na história da mentalidade dos Estados Unidos. A investigação detalhada dos elementos presentes nos quadrinhos, seus personagens e suas narrativas, sobre o papel de instrumento de manipulação de massas e sua relação com o mundo social que pousa enquanto contexto histórico faz parte das pretensões deste trabalho.

São apresentadas as convenções históricas que os gêneros nos quadrinhos traçou ao longo de seu centenário enquanto mídia popular contemporânea. O berço literário, artístico e editorial dos Quadrinhos é trabalhado para a compreensão das mudanças que ocorreram, na definição do que é charge, do que é caricatura e a importância que esses elementos gráficos tiveram na imprensa no final do século XIX e o nascimento das tiras cômicas e dos quadrinhos de aventura do começo do século XX. A construção do gênero Super-herói encontra sua origem na literatura pulp tão popular aos americanos no começo do século XX e sua participação propagandista na Segunda Guerra Mundial. O sucesso mercadológico do gênero Super-herói é tamanho que sua permanência no topo das vendas e produções ultrapassa as décadas como um mercado em progressiva evolução.

Sua passagem pelo período de Guerra Fria, sua vivência na vida internacional, citadina e urbana são as características importantes das construções das mitologias que orbitam seus personagens. Tanto questões de gênero são fundamentadas em turbulentos períodos, como questões étnicas que chocam com posicionamentos políticos e até mesmo a reflexão de mudanças no pensamento político da sociedade norte americana e, de acordo com a extensão do mercado, mundial estão presentes com deveras intimidade no universo mitológico dos Super-heróis.

Por fim, o interesse fundamental deste trabalho é compreender as questões supracitadas diante de um aprofundamento teórico e metodológico diante do documento quadrinho, ou seja, diante das obras produzidas contextualizadas com seus momentos históricos e trazendo à tona a representação cultural e social que os quadrinhos de Super-heróis nutrem a historiografia contemporânea.


Universidade Católica do Salvador - Dia 23 de dezembro de 2008, Sala 50 - 18 horas.

domingo, 16 de novembro de 2008

Exposição IMAGEM EM 5 QUADRINHOS


Aconteceu entre os dias 31 de outubro e 16 novembro a exposição IMAGEM EM 5 QUADRINHOS promovida pela Funceb, Fundação Cultural do Estado da Bahia, na Galeria do Espaço Xisto Bahia (localizada na Rua General Labatut, número 27, Barris). É um evento integrado ao XII Festival Nacional Imagem em 5 Minutos, e para ter um vínculo simbólico a produção de quadrinhos deveria respeitar o limite de 5 quadros e a temática e o material foram livres. Houveram, também, trabalhos de cartoon e charge de apenas uma imagem sobre animação (em computador, televisor, cinema, etc).
A exposição não teve como finalidade a premiação de nenhuma natureza, tendo, somente, uma comissão julgadora que avaliaria os trabalhos entregues para a seleção dos que fariam parte do evento. Uma prorrogação do prazo de inscrição demonstrou que o evento tinha mais a oferecer, sendo muito bem aproveitada por novos artistas no território soteropolitano. O evento foi promovido na parceria da diretoria de Artes Visuais da FUNCEB e o grupo Oficina HQ
Artistas antigos e novos, a página da FUNCEB lista os nomes dos participantes:
Alam da Silva Sampaio (A S), Alexandro Trindade, Alexandre da Costa Cabral (Aleco), Cícero Matos Oliveira (Cmatos), Diego de Jesus Cardoso, Edmundo Luiz Silva Simas, Elton Carlos Ribeiro de Almeida, Emanoel Arnoldo Meireles Caria, Marcelo Nepomuceno Pereira (Lelo Nepomuski), Marcos Mário de Souza Santos, Marilton Rodrigues, Matheus Cerqueira (Theu Cerqueira), Paulo Roberto M. Serra, Sávio Roz, Rodrigo Minêu e Ulisses Pires Almeida. Diversos trabalhos e diversas temáticas, a qualidade oscilava ao gosto dos apreciadores e atendia aos interesses de informação de seus criadores.
Produzi 5 trabalhos sendo que 4 passaram na avaliação da comissão: Um sobre guerreiros medrosos e corajosos, um sobre um universo sobrenatural, um com parceria com Alan Nascimento chamado Anjos em Queda Livre e um sonho erótico de uma menina pequena que cresce e posa despida no Elevador Lacerda. Uma satisfação ver meus trabalhos expostos e mais ainda de ver os olhares curiosos e os risos de alegria ao fim de cada história. Outras histórias foram marcantes, como são os casos do divertidíssimo Tonho, O Pescador, a história lindamente pintada Vaquejada, a muito bela e singela Viagem e uma crítica sequencia de um menino de rua, entre tantos outros trabalhos. Tentei pegar algumas dessas obras com o celular, mas a qualidade da camera não permitiu perfeição, mas exponho-as aqui.










Ainda preciso confirmar se a quantidade generosa de visitantes pode possibilitar o retorno da exposição, o que seria muito proveitoso. Espero que outros eventos semelhantes, com ou sem premiação, possibilitando visibilidade para os quadrinhos e os artistas regionais, existam nos planos de organizações de igual natureza. Parabenizo o trabalho da Oficina HQ na iniciativa!

SR

http://www.fundacaocultural.ba.gov.br/noticias/2008/10outubro/2008-10-28_quadrinho.html

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

COMEÇOU!

Galeria Xisto Bahia expõe quadrinhos e cartuns

A exposição Imagem em 5 Quadrinhos será inaugurada no dia 30 deste mês, às 19h, na Galeria Xisto Bahia. Pela primeira vez, uma mostra do gênero integra a programação do XII Festival Nacional Imagem em 5 Minutos, que acontece de 10 a 15 de novembro nas Salas Walter da Silveira e Alexandre Robatto. O Festival é promovido pela Diretoria de Audiovisual – DIMAS, Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia – IRDEB e Fundação Cultural do Estado da Bahia – FUNCEB, unidades da Secretaria da Cultura.

A exposição é coletiva, apresentando trabalhos selecionados por uma comissão especializada, indicada pela Diretoria de Artes Visuais da FUNCEB. Serão expostas ao público duas modalidades: seqüências de cinco quadrinhos com temática livre, e cartum - imagem única, com tema ligado ao festival (vídeo, televisão, cinema, monitor de computador, games ou imagem e, movimento).

A exposição Imagem em 5 Quadrinhos foi concebida tendo como ponto de partida as aproximações entre a arte sequencial e a imagem em movimento do cinema, do vídeo e, mais recentemente, da imagem digital e dos games computadorizados. A mostra, realizada a partir da parceria entre a Diretoria de Artes Visuais da FUNCEB e a Oficina HQ, exibe a produção de jovens artistas, cujo humor comenta criticamente a influência, a magia e a presença da imagem em movimento no cotidiano.

Cartum x Quadrinhos

O Cartum e as Histórias em Quadrinhos são duas formas de expressão gráfica que se desenvolveram com os avanços tecnológicos surgidos a partir do final do século XIX, os quais favoreceram o posterior desenvolvimento das indústrias do disco, do rádio, do cinema, da televisão e possibilitaram o nascimento de jornais de grandes tiragens com a novidade do uso de cores.

Foi assim que surgiram as Histórias em Quadrinhos (HQ) da forma como conhecemos hoje, por intermédio dos suplementos dominicais ilustrados da imprensa norte-americana, fenômeno retumbante de sucesso e popularidade que se desenvolveu ao alongo do século XX juntamente com o cinema e o jazz, nascidos ao mesmo tempo que as HQ.


Serviço:

O quê: Exposição Imagens em 5 Quadrinhos
Onde: Galeria Xisto Bahia – Rua General Labatut, 27 Barris (71) 3103-4065
Quando: abertura 30/10, 19h; visitação de 31/10 a 16/11, seg a sext das 9h às 21h, sáb, dom e feriados, das 16h às 21h
Quanto: Grátis
Realização: FUNCEB/ Oficina HQ




terça-feira, 7 de outubro de 2008

24 HORAS DE QUADRINHOS BAHIA 2008



Clique para ampliar

24...tic.... tac... tic...

24 HORAS...
24 HORAS QUADRINHOS BAHIA
ESTÁ CHEGANDO...

O que é?
O evento 24 Horas Quadrinho - Bahia tem elementos de gincana e comemoração! Iniciado pelo quadrinhista Scott McCloud, o evento tem por pretensão reunir quadrinhistas e afins no dia 18 de outubro para a produção de 24 páginas de quadrinhos em 24 horas!

Quando é?
Será realizado no dia 18 de outubro no espaço artístico da loja RV Quadrinhos à partir das 8 horas do sábado e com encerramento em 8 da manhã do dia seguinte (domingo)!

Como participar?
A inscrição pode ser feita de duas maneiras: Presencial, na própria RV Quadrinhos e a pré-inscrição feita pelo e-mail savio_roz@yahoo.com.br com as seguintes informações: nome, e-mail, telefones e endereço. Para os moradores de outras cidades, o pagamento da inscrição poderá ser feita em depósito em conta que será enviada como resposta do e-mail de pré-inscrição. O pagamento da inscrição, para residentes em Salvador, pode ser feita na própria RV QUadrinhos! O Valor é de 15 reais!

O que poderei fazer?
TUDO! Seguindo a regra de ser 24 páginas em 24 horas! Todos os estilos e temáticas serão aceitos, bem como a maneira e o material! O evento disponibilizará canetas, lápis e papéis, além de um lanche de sobrevivência! Não serão permitidos bebidas, drogas e nem armas! É um evento de familia, nego! O bom senso prevalecerá!

No mais, divirtam-se!!!

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

BRASIL em QUADRINHOS (ensaio de alguma coisa)




Na história dos Quadrinhos, o mercado experimentou de tudo (e ainda experimenta), tendo em determinados períodos o domínio de um ou outro gênero: Humor, Policial, ficção científica, super-heroi... etc.

Esse mercado oscilou bastante nos Estados Unidos e em alguns momentos na Europa. Em meu trabalho de pesquisa eu percebo que a Segunda Guerra Mundial acarretou numa diferenciação de mercado entre EUA e Europa. Enquanto os americanos entravam na Era dos Super-seres, os europeus reinventavam a ficção científica. Assim, não se encontrará na europa uma tradição de personagens do gênero.

Nós aqui temos outra história. Nossa história, em particular, orquestrou uma cultural plural e singular o suficiente para, diferente dos americanos, não termos heróis super-poderosos e beirando a perfeição. Os heróis do Brasil são sobreviventes eternos nadando na miséria e cantando em humor.

Na TV passou, uma semana atrás, uma reportagem (minha memória não sabe mais onde ou quando) sobre a "produção" de humoristas em estados nordestinos. A miséria e a dificuldade lapidaram um nordestino que ri de si para não chorar, uma força pelo humor. Assim, é fácil entender como Angelo Agostini, no fim do século XIX, criou nossos primeiros heróis: Nhô Quim e Zé Caipora!

O humor diante das mazelas políticas foram sempre presentes na história do Brasil, até mesmo quando a Ditadura Militar caçava os intelectualmente libertos. O século XX foi povoado por diversos artistas que encontraram no humor e não na ação o espaço ideal para atender o público brasileiro, como Henfil, Angeli, Laerte e Glauco, em revistas como Chiclete com Banana que está sendo reeditada recentemente.

Parece que para nossa realidade nacional o Batman e o Super-homens seriam pouco funcionais, não dispensáveis, mas menos ideais. Rir de nós mesmos acaba sendo um ato de heroismo e nossos heróis nacionais salvam com humor as próprias peles, não por serem egoistas, mas por perceberem que a resistência é um poder mais útil que voar ou ter visão de raio-x.

E o mais interessante: Rebordosa, a famosa "Porraloca" do Angeli, está de volta num documentário que não tem a pretensão de competir com a válvula de escape que é o Batman, mas de mostrar que até mesmo nos quadrinhos existe uma identidade brasileira nata.


Excelsior,
Sávio Roz

(Carta para um novo amigo)

sexta-feira, 9 de maio de 2008

BIG BLACK BANG

BIG BLACK BANG!

Eis que os anos setenta apresentaram um Big Black Bang de personagens negros para os quadrinhos. Mesmo que esses personagens ainda não alcançassem a fama que muitos personagens brancos de antes, só o fato de boa parte deles possuir revistas próprias no mercado editorial americano já prova que não eram tão inexpressivos. Se dividirmos os leitores de quadrinhos dos expectadores externos, que limitam-se a poucas imagens e figuras de desenhos e filmes, os primeiros perceberão a pergunta sobre a presença negra nos quadrinhos como muito mais firme.

A Marvel deleitou-se diante dessas criações de personagens, seja num ambiente nova-iorquino, seja numa África ficcional. A empresa rival, a DC Comics, não poderia ficar de fora dessa nova expressão cultural que lavou como maré as décadas de 70 e 80. Logo a DC investiria timidamente coma criação de Vykin, na revista Forever People, de 1971. A quantidade, a partir de então, é enorme, por mais que alguns críticos preguiçosos de adentra à pesquisa aos documentos quadrinhos. As fortes manifestações e ações afirmativas do período 60-70 abriu uma fase cultural que valorizou o negro no cinema e nos quadrinhos. Seriados americanos cooptavam personagens negros da mesma maneiras que revistas em quadrinhos faziam, acrescentando uma singela quantidade de personagens em grandes grupos de super-seres.


O Lanterna Verde, personagem da DC Comics, mais conhecido como Hal Jordan, homem caucasiano, fazendo parte da Tropa dos Lanternas Verdes, precisa encontrar um substituto para usar o anel cósmico. Sua escolha é John Stewart, arquiteto desempregado, homem negro. Como teste, John deveria proteger um político racista, mostrando os choques do período. John não só o protege com honradez como descobre que tudo não passava de um plano feito pelo próprio político para incriminar a comunidade negra. Os criadores do personagem disseram numa entrevista que a criação de John seguia mais uma lógica racional do que uma política liberal, por que a diversidade etnica no mundo e a maior probabilidade fariam Jordan encontrar um negro.

Primeiro acerto da DC, John ficaria um bom tempo, infelizmente, como personagem secundário. Mas isso não cessou a criação de novos personagens nos anos 80. A revista estava estreando, era a New Teen Titans número 1, de 1980. Silas Stone é um cientista que está trabalhando com manipulações extradimensionais, quando um acidente mutila seu próprio filho, Victor Stone. Com partes do corpo separadas e algumas até mesmo destruídas, Silas vê-se obrigado a salvar o próprio filho acrescentendo á ele partes cibernéticas, robóticas, que o transformam em Cyborg, o sofrido herói que ganhou o gosto popular rapidamente. Não há como falar sobre a série Novos Titãs, por toda a década de 80, a década de 90 e até mesmo hoje, sem falar de Cyborg. Mais um ponto pra DC.

Cyborg e o Lanterna Verde John Stewart abrilhatariam as animações da Liga da Justiça e dos Novos Titãs no fim dos anos 90. A atual série de animação da Liga da Justiça (Liga da Justiça Sem Limites) tem uma forte participação de John, mostrando a prosperidade do personagem atualmente.

Os anos noventa pode ser compreendido como “a segunda onda” não só de liberdade étnica dos personagens, mas também editorial. As editoras novas que entravam no disputadíssimo mercado anteriormente dominado pela bipolaridade entre DC e Marvel, agora estava pluralizado. A Image Comics estreiou com Spawn, consagrando personagem e autor como nunca. Spawn é a reencarnação demoníaca de Al Simmons, soldado americano negro morto por traição e que volta á terra para vingar-se e proteger sua familia. Sucesso total. Mas o mais emblemático, pelo menos no ponto de vista da luta pela afirmação étnica, é o surgimento de uma editora só de personagens negros (ou melhor, com um número muito maior de negros nas suas histórias), a Milestone Media. A editora pesou também uma expressiva quantidade de super-heroínas negras.

A morte do Super-homem traria uma rede de intrigas e aparições de personagens que só uma estratégia de vendas bem sucedidas poderia trazer. Dessa forma, surge John Henry Irons, engenheiro mecatrônico que na ausência do protetor de metrópolis veste uma armadura e segurando uma marreta usa o codinome de Homem de Aço. Suas histórias envolviam tráfico de drogas e venda ilegal de armas nos subúrbios norte-americanos. O personagem passou um tempo esquecido, mas retornou com glória em 2006 em eventos especiais.

Atualmente nós estamos vendo mais um super-herói negro surgir sutilmente nos cinemas. Seu nome é James Rhodes. Amigo íntimo de Tony Stark, Rhodes assistiu a decadência do mesmo à bebida. As empresas de Stark quase faliram e seu papel como Homem de Ferra estava insustentável com o alcoolismo. Foi então que por um bom espaço de tempo, Rhodes foi o Homem de Ferro, mostrando sua identidade muitas edições depois. O personagem hoje é conhecido como Máquina de Combate e
utiliza uma versão mais belicista da armadura do Homem de Ferro. Se o presente leitor for ao cinema, percebe a troca de olhares de Rhodes com a armadura cinza que aparece... vamos torcer pra ele vestir!

Falta fôlego para acompanhar essa nova leva de personagens, considerando que estamos evitando falar de velhos amigos, como Pantera Negra e Tempestade, que continuam firmes e fortes até hoje. A medida que o tempo vai passando esses personagens vão enfrentando situações que são representações do que acontece no mundo. Enfrentam racismos em vários graus, que podem surgir de seus editores (quando não lançavam personagens negros) e de seus leitores (quando não os liam).

Lista essa quantidades de personagens é importante para mostrar o quão complexa é a realidade dentro das páginas dos quadrinhos, durante os anos que se passaram. Que é preciso ler para se tirar conclusões, é preciso conhecer mais aquilo que irá opinar ou construir idéias. Uma vez me perguntaram se existiam personagens negros nos quadrinhos por que só viam os brancos. Acho que o problema está aí, só viam os brancos. Eu vejo todos os meus amigos: negros, brancos, mestiços, homens, mulheres, heterossexuais e homossexuais. E esses amigos de “mentirinha” são reflexos de nossa sociedade.

Quem disse que não existem Super-Heróis negros?

(agradecimento silencioso à Cláudio Roberto Basílio)

(Artigo produzido para o Jornal Profusão de Idéias número 3)

IANSÃ dos QUADRINHOS


Iansã dos Quadrinhos



____Continuando a saga dos super-heróis negros nos quadrinhos norte-americanos, assim como os anos 60 (ou pelo menos uma dada parcela dele) foi o período modificador de conceitos, um estopim, os anos 70 serviu como palco de nascimento e atuação desses tantos personagens. Era um incêndio que não poderia ser contido e que expressava o que estava mudando no mundo, até então.

____Tornou-se significativa a presença de homens e mulheres negros nos formados grupos de super-sujeitos que fecundaram nos anos 70. Tanto a Liga da Justiça (da editora DC comics) quanto os Vingadores (da editora Marvel comics) apresentariam um significativo, porém não tão expressivo, número de personagens negros, como Raio Negro. A contracultura e toda a luta ideológica de liberdade que tomava o terreno dos Estados Unidos de então serviu de trampolim para as mudanças temáticas e visuais de alguns personagens. Logo, por exemplo, o Capitão América estaria trocando o seu companheiro mirim dos anos 40, o Bucky, por uma amizade com um super-herói negro oriundo do bairro suburbano do Harlem, em Nova York: O Falcão. Essa parceria demonstrou ser saudável em diversas frentes, até mesmo na melhora conceitual do próprio Capitão América.

____O Harlem também seria berço de outro personagem importante para os Quadrinhos: Luke Cage. Diferente do Falcão, Luke Cage teria um início de carreira vinculado ao crime para logo em seguida enfrentar criminosos na grande maçã. Porém, Luke não seria mais um bom samaritano negro a fazer parte do panteão de heróis, e sim, seria um “super-herói de aluguel”, ganhando a vida com proteção e enfrentando vilões, tudo isso em sua primeira aparição em Hero for Hire 1 de 1972. outro que negaria essa tendência tradicional de bons mocinhos seria o Blade, caçador sem piedade de vampiros e outras bizarrices sobrenaturais em plenos 1973, e que está tão ativo quanto o Luke até os dias atuais.

____Mais importante que listar bons personagens (que existem até hoje nos quadrinhos e resistem às vendagens menores que outros personagens brancos ou orientais) é apresentar o quanto que

essas mudanças se deram na mitologia dos Quadrinhos, principalmente quando isso serviu de liberdade à grilhões racista, e, neste caso, machistas. Falemos da lider dos X-men, Ororo Munroe, muito mais conhecida pela alcunha de Tempestade.

____Sua origem se encontra, na verdade, anterior à sua primeira aparição nos quadrinhos, em Giant Size X-men 1, de 1975. Seu criador, Dave Cockrum, trabalhava para a rival da Marvel Comics, a DC comics. Nesta outra editora, revolucionou o visual dos personagens da equipe Legião dos Super-Herois, o que lhe rendeu tamanho prestígio que os editores encomendaram uma leva de novos personagens, nascendo a idéia de “Outsiders”, um grupo que beirava a psicodelia característica dos anos 70, com cores e efeitos. Entretanto, os editores acharam esses novos personagens pitorescos demais e recusaram o projeto, que, posteriormente, quando Cockrum foi para a Marvel comics, encontrou um novo espaço para aproveita-los.

____Nessa leva estava o Noturno e a Tempestade, personagens que logo fariam parte do Panteão de grandes heróis da Marvel. Tempestade tem um destaque importante no seu visual. Primeiramente ela possuia um vasto “black power” e poderes totalmente diferentes. Pode-se dizer que nem era a mesma personagem. Somente nos X-men ela ganhou seus poderes que nos fariam, baianos, chama-la de Iansã dos Quadrinhos, e um visual ainda mais emblemático. Ela quebrou com correntes demais num nascimento só: É uma personagem negra; é mulher; é lider de um dos maiores grupos de super-heróis das décadas seguintes.

____Ororo demonstrou ser muito além de uma simples heroína de quadrinhos, sendo também uma vanguardista de bandeiras diversas à favor da igualdade racial e de sexo. Atualmente ela casou-se com Tchalla, o Pantera Negra, e juntos além de ocuparem seus papéis de super-heróis, são também representantes de um governo peculiar... Mas isso é uma outra História! Continua no próximo capítulo!

(Agradecimento especial à Carol Suzart pela reflexão sobre Iansã. Agradecimento à Oiá.)

Sávio Roz



(Artigo produzido para o Jornal Profusão de Idéias (Salvador - Bahia) - Segunda Edição - março de 2008)

sábado, 1 de março de 2008

HULK NASCE NO ESCURO

HULK NASCE!

____A sua infância inteira Bruce Banner vivenciou violência suficiente para tornar sua raiva e seu sofrimento reprimidos. Assistiu sua mãe ser espancada durante anos por um pai alcoólatra e agressivo. O desfecho ajudou ainda mais a ira de Banner ser reprimida, quando este viu a morte de sua mãe nas mãos do próprio pai. Criado por outros parentes, Bruce direcionou sua natureza isolada para as ciências, em particularidade a física nuclear. A origem do HULK está mergulhada numa pequena poça de tragédia grega.

____Efetivada em fuga, sua vida como cientista lhe concedeu o patamar de gênio e, logo que se formou, rapidamente ganhou destaque no meio e foi trabalhar no Departamento do Defesa dos Estados Unidos. Mesmo muito jovem, ganhou um renome de importância e logo estava pesquisando e criando a primeira bomba atômica de radiação gama. O Doutor Bruce Banner arquitetou seu próprio destino sem saber, quando, trabalhando nessa arma para o General Thaddeus "Thunderbolt" Ross, testes eram feitos sob sua supervisão no Novo México, numa base secreta no deserto.

____Num dos testes um garoto atravessou a área de segurança ficando, com seu jipe, num espaço perigosíssimo, minutos antes da contagem. Banner ordenou que a contagem fosse zerada e num veículo militar, abordou o garoto. Os militares não sabiam, mas um dos cientistas presentes no experimento era um espião Russo que tinha como missão roubar os planos do Doutor Banner. Esse espião, Emil Blonsky, por inveja dos talentos científicos de Banner, resolveu dar continuação à contagem de explosão. Foi tempo suficiente para que Bruce jogasse o garoto que invadiu o campo de testes, Rick Jones, salvando-o. Porém, a bomba explode antes que Banner possa proteger-se na mesma trincheira que Rick Jones via-se protegido. A radiação atinge Bruce que perde a consciência e é levado para o centro hospitalar da base.

____Emil Blonsky rouba os planos do Doutor Banner e foge sorrateiramente da área de testes. Na enfermaria, Bruce é avaliado e milagrosamente a radiação parece ter perdido efeito, deixando o cientista ileso. Como sentia-se parte culpado da situação, Rick Jones acompanhou os primeiros dias do Doutor Bruce Banner após a explosão, até mesmo quando esse tornava-se o HULK! O HULK seria a expurgação de todos os sentimentos reprimidos de Bruce Banner. Esses sentimentos enclausurados criaram uma personalidade oculta que não só surgiu após a explosão de radiação como foi o poder por trás de sua misteriosa sobrevivência. O HULK salvou Banner da morte certa, mas abriu espaço para sua nova vida de sofrimento e perseguição.

____Logo a ira verde tomaria conta da base militar e seria alvo da perseguição incansável do General Thunderbolts, para desespero de sua filha, Betty Ross, que , apaixonada pelo Doutor Banner, dividia penosamente seu sofrimento. Perseguido, o HULK fica mais irado. Mais irado, o HULK fica mais forte. E caminhando sobre a terra, fugindo de seus algozes, o HULK destrói tudo que vê pela frente, numa incessante busca por uma paz perdida. Sua aparição chama atenção de forças ainda mais perigosas, seres fantásticos e monstros medonhos. Emil Blonsky, utilizando-se dos planos secretos de Banner, irradiasse com radiação gama e transforma seu corpo humano numa gigantesca massa de escamas rochosas e verdes, tornando-se o inimigo que o HULK chamará de ABOMINÁVEL. A perseguição ao HULK ganhou um novo estágio quando a sua identidade a tanto guardada em segredo, foi a público.

____Com o passar do tempo, Bruce Banner experimentou diversas tentativas de cura para seu horrendo mal. A sua vida tornou-se uma interminável fuga de governos, heróis e vilões. Uma força tão poderosa o habitava que todas as suas tentativas de suicídio forma frustradas pela vontade de viver do HULK. Esse Frankenstein moderno e seu franzino alter ego viveram aventuras fantásticas junto a outros heróis ou contra eles. Só recentemente Bruce Banner conseguiu meios psicológicos para controlar o HULK e usa-lo quando fosse necessário. Mas os momentos de raiva descontrolada jamais permitirão que o sofrido Bruce viva em paz numa terra que não conhece a paz.

____Sua primeira aparição, The Incredible Hulk, de1962, apresentava a modernização de Frankenstein de Mary Shelley com "O Médico e o Monstro" de Robert Louis Stevenson. Claro que tudo bem posicionado, numa América do Norte amedrontada pela paranóia da radiação, da bomba radioativa. Num período de Guerra Fria onde o sabotador Russo pode desencadear desgraças imprescindíveis. O HULK é criação de Stan Lee e Jack Kirby e faz aniversário em maio.

____O personagem expressa inegavelmente o medo da sociedade urbana dos efeitos desconhecidos do poder nuclear, outrora já abusivamente utilizado na literatura de PULP, agora somava-se ao constante perigo de uma Guerra Nuclear entre as duas polarizadas potênciais mundiais: Os Estados Unidos e a União Soviética. O HULK pode contar essa História de um ponto de vista muito peculiar: A História nos Quadrinhos.


ps: Breve farei um melhor apanhado da História da Guerra Fria através dos Quadrinhos. Esperem mais HULK nas próximas edições...


SR