sexta-feira, 9 de maio de 2008

IANSÃ dos QUADRINHOS


Iansã dos Quadrinhos



____Continuando a saga dos super-heróis negros nos quadrinhos norte-americanos, assim como os anos 60 (ou pelo menos uma dada parcela dele) foi o período modificador de conceitos, um estopim, os anos 70 serviu como palco de nascimento e atuação desses tantos personagens. Era um incêndio que não poderia ser contido e que expressava o que estava mudando no mundo, até então.

____Tornou-se significativa a presença de homens e mulheres negros nos formados grupos de super-sujeitos que fecundaram nos anos 70. Tanto a Liga da Justiça (da editora DC comics) quanto os Vingadores (da editora Marvel comics) apresentariam um significativo, porém não tão expressivo, número de personagens negros, como Raio Negro. A contracultura e toda a luta ideológica de liberdade que tomava o terreno dos Estados Unidos de então serviu de trampolim para as mudanças temáticas e visuais de alguns personagens. Logo, por exemplo, o Capitão América estaria trocando o seu companheiro mirim dos anos 40, o Bucky, por uma amizade com um super-herói negro oriundo do bairro suburbano do Harlem, em Nova York: O Falcão. Essa parceria demonstrou ser saudável em diversas frentes, até mesmo na melhora conceitual do próprio Capitão América.

____O Harlem também seria berço de outro personagem importante para os Quadrinhos: Luke Cage. Diferente do Falcão, Luke Cage teria um início de carreira vinculado ao crime para logo em seguida enfrentar criminosos na grande maçã. Porém, Luke não seria mais um bom samaritano negro a fazer parte do panteão de heróis, e sim, seria um “super-herói de aluguel”, ganhando a vida com proteção e enfrentando vilões, tudo isso em sua primeira aparição em Hero for Hire 1 de 1972. outro que negaria essa tendência tradicional de bons mocinhos seria o Blade, caçador sem piedade de vampiros e outras bizarrices sobrenaturais em plenos 1973, e que está tão ativo quanto o Luke até os dias atuais.

____Mais importante que listar bons personagens (que existem até hoje nos quadrinhos e resistem às vendagens menores que outros personagens brancos ou orientais) é apresentar o quanto que

essas mudanças se deram na mitologia dos Quadrinhos, principalmente quando isso serviu de liberdade à grilhões racista, e, neste caso, machistas. Falemos da lider dos X-men, Ororo Munroe, muito mais conhecida pela alcunha de Tempestade.

____Sua origem se encontra, na verdade, anterior à sua primeira aparição nos quadrinhos, em Giant Size X-men 1, de 1975. Seu criador, Dave Cockrum, trabalhava para a rival da Marvel Comics, a DC comics. Nesta outra editora, revolucionou o visual dos personagens da equipe Legião dos Super-Herois, o que lhe rendeu tamanho prestígio que os editores encomendaram uma leva de novos personagens, nascendo a idéia de “Outsiders”, um grupo que beirava a psicodelia característica dos anos 70, com cores e efeitos. Entretanto, os editores acharam esses novos personagens pitorescos demais e recusaram o projeto, que, posteriormente, quando Cockrum foi para a Marvel comics, encontrou um novo espaço para aproveita-los.

____Nessa leva estava o Noturno e a Tempestade, personagens que logo fariam parte do Panteão de grandes heróis da Marvel. Tempestade tem um destaque importante no seu visual. Primeiramente ela possuia um vasto “black power” e poderes totalmente diferentes. Pode-se dizer que nem era a mesma personagem. Somente nos X-men ela ganhou seus poderes que nos fariam, baianos, chama-la de Iansã dos Quadrinhos, e um visual ainda mais emblemático. Ela quebrou com correntes demais num nascimento só: É uma personagem negra; é mulher; é lider de um dos maiores grupos de super-heróis das décadas seguintes.

____Ororo demonstrou ser muito além de uma simples heroína de quadrinhos, sendo também uma vanguardista de bandeiras diversas à favor da igualdade racial e de sexo. Atualmente ela casou-se com Tchalla, o Pantera Negra, e juntos além de ocuparem seus papéis de super-heróis, são também representantes de um governo peculiar... Mas isso é uma outra História! Continua no próximo capítulo!

(Agradecimento especial à Carol Suzart pela reflexão sobre Iansã. Agradecimento à Oiá.)

Sávio Roz



(Artigo produzido para o Jornal Profusão de Idéias (Salvador - Bahia) - Segunda Edição - março de 2008)

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