sábado, 18 de agosto de 2012

Cavaleiro das TREVAS - Parte 3 (Final): ÉPICO


Batman: O cavaleiro das TELAS é um ÉPICO


Nós caímos para que possamos usar nossas forças e levantarmos, é o discurso explícito na trilogia do Batman no cinema e que perpassa seus personagens e as situações que a fictícia Gotham vivenciou nas três partes dessa nova ópera contemporânea. No fim temos as diversas distorções que discursos podem sofrer até as suas realizações práticas, até mesmo numa produção focada no entretenimento.
Para tal empreitada, depois de formar a base de sua narrativa medular em já citadas obras do universo do Batman, Christopher Nolan, diretor da trilogia, aproveitou elementos de novos trechos na vida de Gotham City. Para tal, foi necessário adaptar, reconstruir o mito, para que o mesmo tornasse mais confortável na grande tela e a sua redução não soasse confusa. Costurando de forma coerente as específicas fases para a produção da narrativa, Nolan manteve a qualidade atingida com o tempo.
Um prazo de tempo estabelecido entre o final do segundo filme e início do terceiro possibilitou apropriar adequadamente a obra The Dark Knight Returns, ou Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller e Klaus Janson, de 1986.  Apesar de ter fundamentado o título do segundo filme, a obra fechada ofereceu mais elementos para o desfecho. Foi mais uma fonte documental a favor da construção narrativa, mesclando elementos e situações.

Mas de longe é Cavaleiro das Trevas o fio condutor da trama dirigida por Nolan no encerramento de sua trilogia. Foi a saga No Man´s Land, Terra de Ninguém, entre março e dezembro de 1999, que serviu de inspiração para a ambientação de boa parte da produção cinematográfica, assemelhando realidade e fantasia numa costura quase imperceptível. Nos quadrinhos o evento é seguido do efeito de um terremoto que atinge Gotham, mas no filme as circunstâncias são de responsabilidade humana.

A saga Legacy, aqui no Brasil lançada com o título de O Legado do Demônio, de 1996 faz menção direta a Ra´s Al Ghul e sua Liga das Sombras. De pouca força e significância em sua publicação de origem, serviu de peso para segurar algumas pontas soltas fornecidas pelo primeiro filme e muito bem aproveitadas em seu desfecho. A idéia da relação de Bane com a Liga das Sombras é objetivamente modificada para funcionar no trabalho de encerramento da trilogia, alternando com informações de sua contra-parte nos quadrinhos.

Mas o surgimento de Bane está intimamente ligado com a famosa saga Knigthfall, A Queda do Morcego, de abril de 1993 a agosto de 1994, que convergiu as atenções dos leitores aos cadenciados eventos de enfraquecimento, derrota, recuperação e vitória do Batman. A produção cinematográfica ajustou alguns elementos à sua pretensão narrativa, num momento acrescentando recurso próprio e noutro amoldando os oriundos dos quadrinhos originais.
Toda essa estrutura teceu a narrativa de Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Trazendo as ações de Bane e seus escusos planos diante da cidade de Gotham City e do Batman. O encerramento do filme anterior cria toda uma situação de paz nascida de uma mentira: a de que Harvey Dent foi íntegro moralmente e que para isso o imaginário sobre o Batman passaria de herói a assassino. Tal alternação de discurso, dentro da narrativa, servia a uma lógica necessidade ética e suas reflexões na moral social desejada.
E com essa alternação de discurso se segue o terceiro filme, onde o antagonista principal, o maquiavélico Bane, esconde suas verdadeiras intenções em discursos revolucionários de natureza social e política. Deturpando valores de “povo”, “liberdade” e emulando uma justiça social no controle da sociedade pelo crime organizado armado. Bane discursa sobre o conflito de grupos econômicos extremos, onde a riqueza de uns e a pobreza de tantos justificam a ação revolucionária, numa paródia nefasta da Revolução Francesa do século XVIII, fundamentalmente na fase chefiada por Robespierre: O Reino do Terror.
A crise do discurso não é percebida em profundidade pelo herói Batman, nem mesmo pelo comissário Gordon, ambos preocupados com a ordem social perdida. Selina Kyle, a Mulher-Gato, é quem vislumbra melhor o embate entre o Status Quo anterior, de capitalismo e democracia de Gotham City e suas transnacionais, e a pseudo-revolução de Bane, uma ditadura armada e fundamentada no poder e na violência. Com certeza a obra ainda abrirá mais questionamentos e reflexões no campo do discurso ideológico na política, relacionando seus personagens fictícios com a realidade social em que vivemos.
De todo modo, o desfecho da trilogia se provou um competente épico, com direito a trilha sonora impactante de Hans Zimmer e reviravoltas tensas que prenderam seus primeiros expectadores em suas cadeiras por mais de duas horas nas salas de cinema. Ponderar sobre sua qualidade diante do segundo filme é uma atividade pouco produtiva, justamente por se tratarem de um mesmo produto, ligados na pretensão de cunhar nova página na História do cinema.
Savio Roz


Link interessante: http://boitempoeditorial.wordpress.com/2012/08/08/ditadura-do-proletariado-em-gotham-city-artigo-de-slavoj-zizek-sobre-batman-o-cavaleiro-das-trevas-ressurge/). Existe um caminho que perpassa o pano de fundo do filme que vai dar nos quadrinhos. Sua releitura, sua adequação à realidade social, sua adequação ao produto da Industria Cultural. O derrapar de Slavoj encontra-se exatamente em não perceber essa rede discursiva e mirabolar pretensões discursivas.
Mas acredito que por mais competente que seja o Slavoj (principalmente com Pervert´s Guide to Cinema), sua atual análise tropeça na concepção de pretensão do Nolan, de sua produção e do mercado. Buscar uma reflexão de profundidade política nunca foi a pretensão de Nolan, do filme ou mesmo do mercado. E os discursos fechados são falas apenas do ponto de vista do Slavoj, não sendo, de forma alguma, determinantes nas produções em questão.

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