sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Artes marciais primitivas do oriente




O processo de diversificação dos sistemas de luta encontrados no oriente sofreram, ao longo de séculos de aperfeiçoamento, manutenção ou transformação, um pluralismo de ramos. Os estilos se encontram e se contrapõem com a mesma facilidade quando comparados em estudos. Por isso mesmo, definir suas origens se perde em mitos elaborados e idealizados e conhecimento histórico escasso.
Cada sistema marcial tem, em sua origem social, mitos elaborados para confirmar sua natureza simbólica e manter na oralidade a sua história fundadora. Esse tipo de situação não ocorre apenas com sistemas de luta, mas com outros sistemas sociais, como dança, folclore, artes circenses, etc. Cada sistema, atendendo a sociedade original que o criou, com seus mitos relacionados, o faz enquanto preservação de valores. Seguidos cada sistema do mundo, teríamos um problema gigantesco: a falta de espaço para estudar cada complexo sistema, sua origem histórica e sua origem mítica, por isso o trabalho se limitará a estudar o pluralismo dos sistemas marciais asiáticos, famosos por sua grande quantidade de vertentes e sua força enquanto manifestação social.
A relação existente entre a Índia e a China é a matriz da diversificação dos sistemas de luta no oriente. A rota da seda interessava as sociedades participantes enquanto expansão comercial. Desde 500 a.C. a China comercializava com a Índia e as nações próximas. Essas sociedades feudais viviam em guerras constantes, além do fato da rota da seda proporcionar um número considerável de bandoleiros e saqueadores. As caravanas encontravam-se extremamente desprotegidas, o que gerou uma busca grandiosa por comboios seguros. O oriente já possuía uma tradição bélica complexa, com guerras constantes e ritualizadas, proibidas em certas épocas por questões morais e determinadas circunstâncias.
O avanço comercial proporcionado pela rota da seda gerou avanços nas estruturas das cidades, com um número cada vez maior de pessoas. Esse aumento populacional pode ser entendido como uma reação ao sucesso comercial das sociedades envolvidas no comercio expressivo da rota da seda. Nesse momento, a formação de Estados fortes se fez imprescindível. As técnicas de produção e o arsenal para os exércitos seguiram a expansão da máquina do Estado para cada recém nascida nação.
A formação de exércitos profissionais, assim como o aumento do número de seguranças individuais que acompanhavam as caravanas abarrotadas de produtos, gerou uma série de especializações nas artes da guerra. Engenheiros, cartógrafos, especialistas em sinalização, operações anfíbias e de espionagem. Essa especialização pode ser percebida nos capítulos do livro A arte da Guerra, onde o famoso general chinês Sun Tzu, em meados de 350 a.C., elaborou as estratégias fundamentais nos combates de exércitos num período recheado de conflitos desta natureza.
Esses elementos citados podem ser mais caracteristicamente encontrados na era dos Estados Litigantes, entre 480 e 221 a.C., com as longas jornadas das caravanas comerciais que trocavam produtos entre cidades populosas e importantes, protegendo-se de bandidos e foras-da-lei empregando guarda-costas especializados em combates homem a homem com ou sem armas. Essas especializações e os contatos existentes entre esses artistas marciais alimentou a evolução e diversificação das artes marciais.
Os sistemas marciais do oriente tiveram poucos conflitos com seus sistemas de valores. Na maioria dos casos, até mesmo eram confirmados por esses mesmos sistemas. O Taoísmo e o budismo raramente se excluíram e nem excluíam sistemas de luta. Kung Fu Tse (Confúcio), em torno de 500 a.C., não teve seus ensinamentos incompatíveis com as práticas marciais, muito pelo contrário, apenas deram um conteúdo intelectual e de valores à esses sistemas. Lao Tzu (300 a.C.) seguiu a mesma premissa.
No caso indiano, a própria sociedade dividida em castas possuía uma divisão de destaque para os guerreiros e seus descendentes. Essa casta compreende a vida como um conflito perpétuo, e sua religiosidade reafirma sua posição enquanto força marcial. A própria mitologia religiosa da Índia comprova essa afirmação social da classe guerreira com seus deuses em épicos gigantescos e intermináveis. Segundo a tradição Hindu, através do legado oral, os textos indianos chamados Shastras ensinam métodos de ataque a pontos vitais no corpo humano. Esse mesmo conhecimento será encontrado em outras sociedades asiáticas. Os estilos militares da Índia e da China possuem padrões de semelhança que são compreendidos nas trocas culturais das relações comerciais da rota da seda. O mesmo caminho que ligou economicamente esses dois e muitos outros países, ligou a todos nas trocas de conhecimentos de culinária, medicina, e, claro, sistemas de luta. O uso dessa rota da Seda se intensificou no século VI a.C., e foi passagem de famosos peregrinos eruditos, como Hsuan Tsang (600 a 664 d.C.), que percorreu a China e a Índia, onde se imortalizou como o Lendário Tripitaka em uma coletânea de lendas escrita por Wu Ch´eng-en que e abordou características desse período em seus escritos.
Seria uma tentativa desastrosa considerar uma origem aos sistemas de luta a uma nação especificamente. Os sistemas nasceram e se aperfeiçoaram com o passar do tempo, com seus elementos originais e seus elementos recebidos de outras culturas marciais. Ideologicamente, o budismo, o confucionismo, o taoísmo, o Hinduísmo, entre outros sistemas religiosos e filosóficos, formam a base das tradições marciais da Índia, China e resto da Ásia. Se for de definir um local de nascimento aos sistemas de luta da Ásia, as estradas da rota da seda são o local mais exato. Seus pais, monges, peregrinos e diplomatas de muitas nações.

Sávio Roz

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