sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Artes suaves da China



As tradições Shaolin, sistema duro ou chamado externo, galgado na filosofia budista foi criado como uma saída rápida aos conflitos bélicos com os mongóis que os chineses enfrentavam. Alguns estudiosos da marcialidade demonstram em tradições orais a antiguidade do sistema interno, ou suave, de luta, muito mais antigo que o sistema de luta interno.
As semelhanças entre os sistemas comprovam as relações profundas que possuem, sejam como nascido um do outro ou mesmo como inter-relação de troca de conhecimentos. Isso apresenta-se no uso das formas e posturas de animais e no uso de simbolismos e outros elementos. As artes suaves da China, o sistema interno, têm uma relação ainda mais profunda com o mundo natural. A noção dos cinco elementos naturais, conceito taoista. As raízes desse pensamentos, da filosofia chinesa, estão no naturalismo xamânico, da pré-história da humanidade. Esse vínculo místico entre homem e natureza é reflexo da vida dessas comunidades de caçadores e coletores da China neolítica. A dependência natural exigia uma intimidade profunda com o mundo em sua volta.
Assim, entendemos o taoísmo como o homem no seu contexto com o mundo natural, como faremos com o confucionismo gerando um homem em plena relação com a ordem social. Embora o Tao Te Ching surja como livro fundamental na visão de mundo taoista, as idéias são muito mais antigas, provavelmente uma tradição oral comum a civilização chinesa em desenvolvimento. Na idéia de formação do universo dos gregos, a ordem é gerada de um mar infinito de caos, mas, no caso chinês, esse universo é regido por uma força intrínseca, além da existência e além da não-existência, chamada Tao. A força Tao, grosseiramente traduzida como caminho ou via, se manifestará nas coisas do mundo através da energia vivaz do Chi. O Chi irá então dividir o universo em dois caminhos, duas oposições, mas que não se negam, se completam, formando a o plural e complexo universo. Assim teremos luz e trevas, calor e frio, rigidez e maleabilidade, forças unidas para gerir a existência das coisas. Assim, nasce a idéia de Yin e Yang.
Os cinco elementos, através das forças Ying e Yang, irão se combinar diversas vezes e de diversas maneiras, de maneira dinâmica, para obter-se o mundo natural. Terra, água, fogo, metal e madeiras irão nascer uns dos outros, e, ao mesmo tempo, serem destruídos pelo anterior. Não é de se surpreender a idéia de que o taoista chinês muitas vezes vivesse como um eremita. O contato da natureza era necessário para a compreensão desses conceitos complexos. Era necessário um rigoroso estudo empírico do mundo natural.
Basicamente, teremos três artes suaves: Hsing-I, Pa-kuá e T´ai Chi Chuan. Seus nomes, ou melhor, as traduções dos ideogramas que compõem seus nomes, irão explanar seus modos de pensar. O Hsing-I trabalha com o uso da tradução racional das formas, por isso seus ideogramas juntam a concepção de “forma” com a transcrição do que se pensaria enquanto “intenção – idéia – mente”. Não muito complicado de se entender, essa arte utiliza-se de movimentos “pensados” e, assim como nas artes baseadas em movimentos de animais, entender esses movimentos para melhor aplica-los, melhor assimilar vantagens deles. O Pa-Kuá é a arte marcial do sistema de adivinhação tradicional chinês, o I-Ching. Essa compilação de conhecimentos esotéricos é utilizada como estudo energético do Chi, seja para fins de saúde, busca de riqueza, melhoria de vida, bons fluidos, etc. O Pa-Kuá irá trabalhar também a idéia de manipulação da energia Chi com os oito diagramas do I-Ching, por isso seu nome.
Por fim, teremos o T´ai Chi Chuan, considerado o sistema de luta mais praticado do mundo, utilizando-se de movimentos suaves, recorrentes da concepção de controle e manipulação da energia Chi do indivíduo. A arte marcial do ceder, será assimilada pelos Okinawanos enquanto conceito para a formulação do que chamaremos de Karate. Os conhecimentos dos Pontos vitais, para os sitemas suaves de luta da china, serão explicados, da mesma forma, com a idéia de manipulação da energia vital, o Chi.

Sávio Roz

Nenhum comentário: