sexta-feira, 7 de setembro de 2007

As artes de luta na Europa e no Oriente Médio na antiguidade




Diferente do que se possa imaginar, já que se vincula diretamente o termo “arte marcial” aos sistemas de luta conhecidos no oriente, o ocidente produziu manifestações marciais significativas. Esses sistemas de luta ocidentais não são tão conhecidos hoje em dia por conta da desvalorização histórica, a desvalorização filosófica e teológica que acompanharam as sociedades do chamado ocidente. O contrário aconteceu no oriente, onde a cultura, a filosofia e a religiosidade não só permitiram como estruturaram melhor e organizaram os seus sistemas de luta locais.
Para se entender melhor essa base filosófica e religiosa que se deu de maneiras diferentes nos dois lados convencionais é preciso ter em mente a divisão corpo e mente. As culturas ocidentais, em suas complexas nuances, sempre apresentaram uma separação nesses aspectos de forma antagônica. Separou-se a parte somática da parte mental e espiritual. Aristóteles, por exemplo, argumentava que o ócio permitia a expansão da mente, desvalorizando qualquer desenvolvimento do corpo. Esse pensamento se enraizou na filosofia, mesmo não sendo regra social, já que as guerras continuavam a demonstrar o contrário. Com o advento do cristianismo, esse pensamento ganhou um espaço ainda mais pragmático e o mundo ocidental demorou a entender a frase “mente sã, corpo são”. Como explica José Augusto Maciel Torras, “uma idade média teocêntrica e uma idade moderna antropocêntrica nos fez ter somente idéias de desvalorização somática”.
Mas esse problema, mesmo que tenha castrado avanços nas chamadas artes marciais ocidentais, ou mesmo limitado sua trajetória, não consistiu numa extinção das modalidades marciais tão antigas no ocidente quanto sua própria história social. Toda a documentação que relata guerras e vida belicista das sociedades da antiguidade ocidental apresenta elementos dessa história. Os poemas de Homero, as metamorfoses de Ovídio, A canção de Rolando e outros textos medievais, Epopéia de Gilgamesh, entre outros, trazem uma carga de habilidades, conhecimentos e tratamentos diferenciados aos combates armados e desarmados.
O fato de uma diferenciação dos guerreiros das antiguidades em armas e atividades, montando uma hierarquia dentro dos exércitos, com os Imortais no topo dos exércitos persas, a tropa real do Egito faraônico, os senhores da guerra mesopotâmicos, enfim, uma leva infindável de especialistas nas artes da guerra. Eis que nessa antiguidade se estruturam os sistemas de luta dos gregos. Sua mitologia, assim como ocorreu em outras civilizações, é bem verdade, narra os ensinamentos de Hermes aos homens de um sistema de luta que ficou conhecido como pancrácio. Pancrácio na etimologia da palavra significa “dominar a tudo e a todos”. Sistema de luta violento, não menosprezava nenhuma parte do corpo, aceitando golpes de mãos, pés, joelhos, cotovelos, etc. O pancrácio se embasava da filosofia grega, do culto ao corpo, entre outras modalidades esportivas. Era elemento fundamental nos jogos olímpicos e vem de sistemas de luta comuns nas cidades-estados gregas, praticados até mesmo por mulheres. Esse valor à virilidade e ao combate era apreciado em particular pelos cidadãos de Esparta, cidade belicista da antiguidade grega. Assim como em outras cidades-estado gregas, Esparta possuía ginásios repletos de homens e mulheres que treinavam, exaustivamente, separados, diariamente, preparando-se às disputas públicas. O pancrácio possui elementos que encontramos também em modalidades orientais, tais como as técnicas de alavanca, o Acroquismo, que consiste em torcer os dedos do adversário até sua submissão total. Esse sistema foi aperfeiçoado, dando origem a luta greco-romana.
O Pugilato é um outro importante e popular sistema de luta da Grécia helênica. Sua antiguidade é remota, era um sistema preparatório anterior mesmo aos adestramentos com armas e em tropas. Os heróis greco-romanos Amico e Epeo, como registram os escritos de Platão, eram respeitados e temidos pelas suas capacidades de luta. O primeiro pela grande força física e pelo desfecho de sua história de vitórias nas mãos de Polluxm, lutador de um sistema que será aperfeiçoado pelo segundo, Epeo, tornando-se o Pugilato. Mitos a parte, o Pugilato ganhou enorme popularidade, expandiu-se enquanto sistema e sobreviveu até o Império Romano, assimilado aos combates de gladiadores. Nessa evolução sistemática era praticado de duas maneiras: Combates sem proteções nas cabeças ou punhos, e combates protegidos nas cabeças com elmos de cobre e tiras de couro amarradas aos punhos.
Mesmo com toda a divisão ideológica que limitava o avanço dos sistemas de luta, principalmente a coesão religiosa, a Idade Média apresentou sistemas complexos vinculados às classes de cavaleiros, em especial aqueles especializados para as cruzadas. Para esses guerreiros estagmentados, o pugilato se aperfeiçoou, tornando-se Kick (técnica inglesa que acrescentava golpes com as pernas). Os medievos franceses não ficaram muito longes desses avanços, onde o boxe ortodoxo ganhou espaço e novo nome: Savate. Esses avanços técnicos ocorreram até mesmo na Católica Itália, com o sistema chamado Borzaghino.
Os cavaleiros medievais se destacavam além das técnicas de combate com armas e em cavalos. Os períodos preparatórios às cruzadas e os grandes hiatos de paz nas cortes permitiam a pratica e o aperfeiçoamento de sistemas de lutas que, por tanto se popularizarem, chegavam às cortes e encantavam os nobres. Ricardo coração de Leão ficou famoso também por suas perícias em combates corpo-a-corpo. Incrivelmente coincidentes esses guerreiros de doutrinas esotéricas se assemelhavam aos monges guerreiros que estavam intimamente ligados aos sistemas mais antigos da Ásia, ainda mais por suas formações morais e filosóficas que não conflitavam com os sistemas de combates.
Assim podemos perceber o quanto o ocidente, mesmo com seus percalços e limites ideológicos, conseguiu produzir uma vasta e significativa rede de sistemas de luta, mesmo menosprezada pela historiografias marciais. Os sistemas de luta são compatíveis às necessidades e peculiaridades de cada povo, adequando-se aos seus sistemas religiosos e sociais. A grande vantagem do oriente é a permissividade filosófica e religiosa, além, claro, dos seus elementos peculiares e particulares.

Sávio Roz

Um comentário:

Anônimo disse...

quem e q vai ler 1 negocio desses?

grande pra ........!!!